Em 22 de setembro, comemora-se o Dia Nacional do Paradesporto e setembro é considerado o Mês de Conscientização quanto à Importância da Prática de Atividades Físicas por Pessoas com Deficiência. Também, neste ano, os Jogos Paralímpicos de Paris foram destaque. A delegação brasileira contou com 279 atletas para representar o país em 20 modalidades diferentes, mostrando como o esporte pode transformar vidas.
Nesta edição da Revista Paz, trazemos uma reportagem especial, contando um pouco da história da rondonense Kauana Michelson Beckenkamp (15), filha de Tatiane e Edson. Leia e seja edificado!
“Sem a tíbia”
Kauana nasceu com má-formação congênita de tíbia, no caso, sem a tíbia e com 1 ano e 2 meses, passou pela desarticulação da sua perna esquerda, e com isso, começou a usar prótese para se locomover. Com 1 ano e 7 meses, caminhava e logo se acostumou com a prótese. “Tenho uma vida normal com a prótese e preciso trocá-la a cada ano, dependendo da minha evolução com o crescimento. Quando era pequena, nos primeiros anos, trocava a cada três meses, porque crescia rápido”, explica.
Ela conta que já passou por situações difíceis por ser “diferente”, mas hoje em dia, não vivencia isso mais. “Já fui alvo de bullying! Inclusive, posso dizer que sofri 4 anos de bullying, no tempo em que frequentava a educação infantil e as crianças do pré ao 4º ano me chamavam de ‘Saci Pererê’, ou ‘a menina de perna de ferro’. Mas, aprendi a superar isso e a falar para as pessoas que não gosto que me chamem desse tipo de coisas”, destaca.
O esporte
Em 2019, Kauana começou a praticar badminton, quando o professor Douglas Borela tinha um projeto de dança na Unioeste, com crianças especiais. “Ele me chamou para fazer aula de dança e viu que eu tinha um talento muito grande! Com isso, me convidou para fazer badminton. Foi aí que conheci o Allan Chapla, que é o meu técnico atualmente”, explica.
Ela conta que sempre recebeu muito incentivo e apoio dos pais, avós, tios, madrinhas, da família em geral, de amigos e patrocinadores.
Kauana sempre treinou no Colégio Cristo Rei e na Uioeste. “Hoje, frequento o Cristo Rei e treino com o alto rendimento e continuo treinando com o meu técnico, o Allan. Já ganhei vários campeonatos, a nível estadual, Copa Oeste, campeonatos nacionais, e além disso, fui destaque em campeonato internacional, o Parapanamericano, onde fiquei em 2º lugar”, ressalta.
Ela tem grandes planos para o futuro. “Quero sempre ‘passar de ano’ na escola, fazer faculdade de Medicina ou Veterinária e também ir para as Paralímpiadas em 2028. Neste ano, já participei de dois treinamentos em São Paulo, onde estamos sendo formados atletas de base, pois após as Paralímpiadas de 2024, vamos ter que começar o ciclo para 2028. Então, já vamos estar tendo uns treinamentos com atletas internacionais e competições, com oportunidades de sermos convocados pela Confederação Brasileira de Parabadminton. Para isso, temos que treinar todos os dias, para estarmos preparados e também estar participando de competições municipais, Copa Oeste, Estadual e Nacional”, explica.
“Liberdade”
Para Kauana, o esporte é algo muito importante. “O esporte me deixa mais tranquila e também leva a gente para vários outros lugares, conhecendo novas pessoas… é por isso que eu amo praticar esporte! Quando você começa a fazer o esporte, vai sentir o que é! Ele começa a curar muito, a te tirar das dificuldades, a te mostrar que você tem mais liberdade durante o campeonato do que fora do esporte. Neste ano, consegui três medalhas de ouro no Nacional de Parabadminton, nas categorias individual, dupla feminina e dupla mista! Isso foi muito bom para mim, inclusive neste campeonato meus pais foram me assistir. Um versículo que considero muito importante é ‘O Senhor é meu pastor e nada me faltará’. Sempre levo isso comigo”, finaliza.
Uma palavrinha da mãe…
Os pais, Tatiane e Edson, contam que, quando a Kauana nasceu, não sabiam que ela teria alguma má-formação em uma das pernas. “Foi um grande susto para nossa família. No começo, foi muito difícil, nos questionamos várias vezes: ‘porque tinha que acontecer com a nossa filha’? Encaramos e fomos encaminhados para Curitiba, quando ela tinha 18 dias de vida e lá foi o outro baque: os médicos nos deram a opção de fazer a desarticulação. Tivemos que passar por atendimento psicológico e em certo momento comentei com meu esposo: ‘pra que tudo isso? Temos que aceitar que será a melhor forma para ela ter uma vida boa pela frente’. Foi a melhor opção que tivemos, quando a Kau tinha 1 anos e 2 meses. Lembro que deu uma semana de prótese e ela começou a correr pela casa e com sessões de fisioterapia para o fortalecimento da musculatura, ninguém segurou ela mais! Sempre tratamos a nossa filha como uma pessoa normal; se precisava ficar de castigo, ficou… aquele puxão de orelha se precisar, leva até hoje. Acreditamos que tudo tem um propósito na nossa vida”, destaca Tatiane.
A mãe ressalta que é muito gratificante ver a Kauana se destacando nacionalmente no esporte. “É um orgulho ver ela tão nova já se destacando, isso representa que, mesmo com vários obstáculos, estamos superando e o amor que damos a ela é reflexo disso. Sempre estamos dando apoio, quando está em competição, mesmo por mensagens, ou até assistindo, sempre pensando que tenha uma excelente competição. Hoje vemos que ela tem o sonho de ir para as Paralímpiadas em 2028 e creio que, se for da vontade de Deus, ela estará lá e com certeza estaremos lá dando o maior apoio possível”, finaliza.