Neste mês de outubro (dia 1º), comemora-se o Dia Internacional do Idoso. Para celebrar a data, a Revista Paz traz um pouco da história de uma centenária! Isso mesmo: dona Linda Lotte Herzog (com o sobrenome de solteira Rode), que nasceu no dia 02 de agosto de 1922, em Plate, município da Alemanha, localizado no distrito de Ludwigslust-Parchim, filha de Gottfried e Ernestina Rode.
Conversamos com essa querida entrevistada, juntamente com a filha Erica, em uma tarde muito especial e cheia de memórias. Muito lúcida e animada, Linda conta que quando tinha cerca de 1 ano e meio, veio com os pais de navio para o Brasil, embarcando em Hamburgo, na Alemanha e desembarcando no Guaíba, em Porto Alegre, em dezembro de 1923. Foram residir na região da cidade de Santa Rosa, onde hoje é o município de Ubiretama, no Rio Grande do Sul.
O pai, seu Gottfried, era professor e tinha conhecimento de música, estudou missões e passou a ser professor durante a semana e aos fins de semana realizava os cultos da Igreja Congregacional na Linha 15 de Novembro, então como presbítero, e em 1950, foi empossado como pastor. Assim, desde sempre, dona Linda viveu em ambiente cristão. “Desde criança, ainda no Rio Grande do Sul, nossa vida era na igreja, ainda com o pai que era pastor”, destaca.
No Brasil, nasceram os irmãos Hildegard Helena, Elsa Frieda, Walter, Edvino Daniel e Kurt Siegfried. Os irmãos Walter e Kurt também tornaram-se pastores da Igreja Congregacional. Entre todos, Linda, a primogênita, é a única viva.
Ainda em Santa Rosa, no dia 07 de agosto de 1942, Linda casou com Edvino Adolfo Herzog (falecido em 15 de janeiro de 1990, aos 72 anos), e foram muito abençoados com os filhos: Erica, nascida em 22/05/1943, Vilma (08/04/1945), Ademar (24/06/1948 – in memorian), Elmar (13/11/1951 – in memorian) e também adotaram Anita, nascida em 11/01/1954.
Dona Linda tem oito netos (dois in memorian), quatro bisnetos e um trineto.
A vinda para o Paraná…
Já com todos os filhos crescidos, passaram por grandes dificuldades no Rio Grande do Sul, por falta de terras produtivas e em 1952, Edvino resolveu vir, juntamente com um grupo de 20 homes, conhecer as terras do Paraná que estavam sendo colonizadas. “Naquela época, não havia máquinas para o trabalho, sendo tudo manual. Era um desafio mudar. Quem tinha coragem, veio”, ressalta Linda.
Após conhecer as terras, retornou para buscar a família, chegando em fevereiro de 1953, primeiramente em Marechal Cândido Rondon, pois tinham as terras, mas não tinham casa construída. “Moramos primeiro em Marechal Rondon, em um barracão construído pela Colonizadora Maripá, próximo de onde hoje é a Igreja Matriz Católica”, explica.
Moraram por um tempo em Marechal Rondon, mas o local escolhido para a compra das terras foi Nova Santa Rosa. “Uma colônia perto da vila, para ficar próximo da escola e da igreja, pois íamos a pé, na época não tinha carro”, relata.
Seu Edvino trabalhava como construtor de casas em madeira, enquanto dona Linda cuidava dos filhos e dos afazeres domésticos. Somente em novembro de 1954, mudaram-se para Nova Santa Rosa, após ser construída a ponte sobre o Rio Guaçu, para ligar os dois municípios. “Tinha que fazer a volta por Quatro Pontes e Novo Sarandi. Quando viemos era tudo mato! Foi um tempo de muito trabalho e a família toda ajudava; tinha cobras e boatos de onças, então sempre tínhamos que trabalhar juntos e com cuidado”, lembra.
“Uma Igreja”
Sendo uma das famílias pioneiras de Nova Santa Rosa, quando chegaram na região, dona Linda e o marido logo procuraram uma igreja, passando a ser membros ativos na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Edvino foi presidente da comunidade por um período. Dona Lina sempre foi uma mulher de fé, sendo fundadora do grupo da OASE (Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas), da qual foi presidente e também do grupo de Coral. “No início, o coral ensaiava aqui na área de casa”, relembra.
Na época, o marido tocava violino, e ela tocava violão e bandolim, junto com o coral. “Agora as mãos não ajudam mais pra tocar, mas sempre gostei muito”, explica. Aos poucos, foram sendo formados outros corais: além do coral da comunidade, o coral da OASE e mais tarde, o coral dos idosos, em que Linda tinha participação.
Em 1959, o pai de Linda, Pr. Gottfried, veio do Rio Grande do Sul para a região, para iniciar as atividades da Igreja Congregacional na região de Marechal Cândido Rondon (setembro) e Nova Santa Rosa (outubro) e ficou residindo na casa dela até que a igreja disponibilizasse moradia. Como Linda e a família estavam ativos na IECLB, ela lembra que o pai falou: “Eu não vim para tirar vocês da igreja! Fiquem onde estão e continuem servindo à Deus com amor”, relata.
“Ensina a criança…”
Ela destaca que levou os filhos na fé em Cristo, ensinando a cantar e orar. “Em todas as refeições, sempre oramos juntos na mesa. Naquela época, eram todos na mesa, não tinha isso de cada um pegar seu prato e comer no sofá. Também tínhamos nossos momentos de leitura do Castelo Forte, mas o principal era o culto. No começo, o pastor vinha de Toledo, e era um culto por mês, depois passou a ser duas vezes por mês. E nesses dias, o compromisso da família era participar do culto: entrava toda a família na Kombi para ir ao culto”, relembra.
“Não tenho dor”
Ela relata que viveu uma vida boa, trabalhou bastante, mas não deixou de passear quando possível. “A gente precisa visitar os parentes enquanto pode”, acredita. Nunca bebeu ou fumou. “E é muito bom viver a vida sem isso”, aconselha.
Sempre se manteve ativa, tanto na vida familiar como da comunidade. Dona Linda está forte e lúcida, com a idade avançada, diz que se sente mais fraca e cansada, mas não tem graves problemas de saúde e toma somente uma medicação para pressão alta. “Mesmo que me sinto mais fraca, não tenho dor, e isso é bom… todos os dias agradeço a Deus, por cada dia a mais de vida”, destaca.
Dona Erica (filha que acompanhou a entrevista), ressalta que é muito bom que ela chegou aos 100 anos com saúde, sem grandes necessidades de auxílio, como é o caso de muitos idosos que ficam acamados: “Se não fosse assim, a vida seria difícil, seria triste para ela e também para a família”, acredita.
Atualmente, a nora Adelaide, que mora junto com ela, e a filha Erica (além de demais familiares), sempre zelam e cuidam com muito amor de dona Linda.
Deus é tudo!
Ao perguntarmos sobre a importância de Deus na vida dela, é enfática: “Er war alles! Tudo! Tudo! Deus é tudo. Deus dá a vida e sem Ele não somos nada e Ele me abençoou com essa vida longa e feliz”, ressalta, inclusive na língua alemã, que fala rotineiramente com a família.
Ela deixa um conselho aos mais jovens: “Vivam uma vida boa, participem de uma igreja, trabalhem e passeiem, se divirtam, mas tenha uma vida de equilíbrio (como eu tive). ‘Nicht viel essen, nicht viel trinken’ – não coma muito, não beba muito, e nada (ganecks) de cigarro. Mantenham distância destas coisas e fiquem próximos de Deus”, ressalta.
E frisa ainda, que é importante sempre agradecer e ter um coração grato, mesmo nos momentos de dificuldade! “Deus é o amparo, Ele nos guarda e nos cuida e não somos nada sem a proteção Dele”, finaliza.