Por pastor Lauri R. Becker
Paróquia Evangélica de Confissão Luterana de Nova Santa Rosa
Nos primórdios da Igreja cristã, o nome “cristão” era um apelido pejorativo. Eram aqueles que confessavam publicamente como servos do “Jesus, o Senhor”. Cristão só era aquele que sabia o conteúdo e o significado do “ser cristão “.
Todos nós somos identificados diariamente pelos nossos nomes, também pela nossa forma de viver e de se relacionar. Pois é, somos identificáveis, reconhecem em nós determinadas atitudes. Ser evangélico não é só assistir culto, entregar o dízimo e ler material da igreja. Gente evangélica desenvolve um jeito de viver. É vivência e convivência, onde quer que seja. Não é coisa do passado e da intimidade. É algo que se vive hoje e aqui, em público, sem ter vergonha. Viver esta fé enche o coração, dá alegria e leva à ação, todos os dias, em todas as situações. Isto é a liberdade cristã. O reformador Martim Lutero escreve: “O cristão é um senhor livre de tudo, a ninguém sujeito. O cristão é um servo dedicado a tudo, a todos sujeito”.
Segundo Lutero, Deus nos aceita como justos quando cremos e confiamos em Jesus Cristo. “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5:1). Recebemos a Salvação pela fé e não pelas boas obras que praticamos. “Ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei” (Romanos 3:20). Esta fé leva necessária e espontaneamente a produzir boas ações, assim como a árvore saudável produz bons frutos.
O comportamento ético do cristão, sua responsabilidade social e política, é resultado de decisões tomadas à luz do Evangelho (não de opiniões, ideologias ou de líderes), sempre levando em consideração três critérios: 1) O que serve ao próximo? 2) O que promove a vida? 3) E o que contribui para o louvor de Deus?
Sou libertado de todos os meus pecados. Isso significa que sou livre do meu passado, da minha consciência presa à eterna auto defesa. Livre no dia-a-dia para uma ação responsável em defesa da vida humana. É insistir em seguir a Jesus (Marcos 2:23-3.6). Livre para a solidariedade e para o amar.
Sou libertado da morte. Consigo manter a esperança mesmo em desespero (Romanos 4:18). Não desanimamos com fracassos. A preocupação e o medo nos deixam paralisados, passivos e acomodados. A morte jamais é o fim. Em consequência, a vida, seja ela como for, não é tudo. Na medida que perdemos o medo, a morte perde poder.
Sou libertado do poder do diabo. Livre dos meus instintos, inclinações e desejos. Somos aceitos sem precisar demonstrar nosso valor, o poder, a força, a produção e conhecimentos. É não fazer um ídolo de si mesmo. É poder ser autocrítico, antes de desconfiar dos outros, desconfiar de si mesmo. É tirar primeiro o pedaço de madeira que está no olho para então tirar do irmão/ã (Mateus 7:5).
Sou livre de mim mesmo, do meu egoísmo. Agora sou de Cristo (1 Coríntios 6:19; 3:23). Lutero confessa: Jesus Cristo me resgatou e salvou para que eu lhe pertença e viva submisso a ele, em seu Reino, e o sirva em eterna justiça, inocência e bem-aventurança. Ser livre é poder dar-me aos semelhantes como Cristo se deu às pessoas.
Nós não encontramos Deus. Deus é quem nos encontra – em nossa escuridão, nosso vazio, nossa dor, nossa solidão e nossa fraqueza. Sem dúvida, Deus nos encontra mais intimamente em nossa realidade, ou seja, em nossa confrontação honesta com a fraqueza, a dor, a solidão e a morte. Deus também nos encontra na alegria e no sorriso.
No atual momento de nosso país (escuridão, agressividade, intolerância, raiva, mentiras, palavras duras e maldosas), o que os evangélicos estão deixando visível? O que as pessoas estão vendo? O que os evangélicos estão testemunhando? Será que estamos sabendo ser cristãos? Ou somos evangélicos ideológicos?
Quando Deus nos encontra onde estamos, o Espírito Santo abre nossos olhos para ver que a cruz é o abraço de Deus. Deus entra em nossa escuridão e nos abraça com aceitação total e incondicional. Identificando-se completamente com a dor e o sofrimento de nossa existência. Deus nos atrai para uma relação de amor com Ele.
Esta mesma cruz é a vitória de Deus. Ele entra em nossa escuridão, expõe e vence os poderes que reinam neste mundo. Através da morte de Jesus, Deus nos liberta de qualquer pessoa, coisa, sistema, etc., que nos escravizam. Somos livres para permitir que Deus seja Deus. Livres para sermos humanos.
O Criador do Universo é um Deus ousado, pródigo, extravagante, apaixonado, misericordioso, maternal e paternal, que se encarnou em Jesus. O Espírito Santo abre nossos olhos para ver e entender o mistério mais profundo de nossa fé. Jesus nos convida para sermos audazes e atrevidos no testemunho e no amor. Através de Jesus vemos Deus em tudo – chorando onde há dor e alienação, alegrando-se onde há integração e amor. Em Jesus experimentamos um pouco do mistério de Deus.