Solidariedade

“Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus”

Mateus 5:16

10 de agosto é o Dia da Solidariedade Cristã e 28 de agosto, Dia Nacional do Voluntariado. Datas pouca lembradas, mas com grandes significados e importância. Para destacá-las, nesta edição da Revista Paz, trazemos uma reportagem muito especial que envolve a tragédia ocorrida neste ano no Rio Grande do Sul e que afeta milhares de pessoas até hoje. Contamos histórias de pessoas que decidiram ajudar e fazer a sua parte, como a Bíblia nos orienta: “E Jesus disse-lhe: amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas”. Mateus 22:37-39.

Leia e seja edificado!

O amor pelas pessoas…

A administradora e empresária Kamila Sepulchro (31), é natural de Aracruz (ES) e mora há 13 anos em Marechal Cândido Rondon. É membra da 1ª Igreja do Evangelho Quadrangular em Marechal.

Além do trabalho voluntário realizado pela igreja, já trabalhou como voluntária em escolas (dando aula de artesanato), em outra cidades com o grupo missionário, em cozinha solidária, mas neste ano teve uma experiência muito impactante: foi voluntária no Rio Grande do Sul. “O que me move é o amor pelas pessoas, o sentimento e a necessidade de poder proporcionar o bem a alguém, ou talvez o simples cumprimento do segundo maior mandamento já deixado por Deus (Marcos 12:31). Eu não imaginava que ir pra lá seria tão importante pra mim; descobri isso apenas quando estava lá. Deus tem Seus meios de trabalhar e a minha ida pra lá serviu para que Ele trabalhasse em mim também. Essa foi de longe a maior catástrofe natural dos últimos anos na América Latina. Mas mesmo com a tristeza inicial de ouvir falar sobre uma tragédia, meu coração foi tomado por amor e gratidão ao ver a comunidade rondonense e comunidades ao redor abraçar o Rio Grande do Sul. Fui convidada a ir com o grupo de Cascavel (SOS Cascavel), mas o que me levou a realmente decidir foi a chama que se acendeu em meu coração que me dizia que alguma coisa eu precisava fazer lá, que a minha ida tinha um propósito maior do que eu poderia entender naquele momento. Pude, durante 11 dias, sentir isso bem de perto por estar junto com amigos ajudando em toda a organização e divulgação das doações recebidas no ponto centrão de Marechal”, explica.

“Indescritível”

Kamila conta que a experiência de estar lá ainda é indescritível. “Pude auxiliar no resgate de civis, resgate de pets, fui voluntária no abrigo de cães em Mathias Velho (Canoas), no Hospital Nossa Senhora da Graça e no hospital de campanha da força aérea; na Ulbra, onde entreguei leite e fórmulas para as crianças, que levei com a ajuda de amigos e farmácias de Marechal. E o principal e certamente o mais impactante: fui voluntária nos abrigos de Canoas e Porto Alegre. Pude sentir na pele toda a tristeza e desamparo das famílias lá abrigadas”, destaca.

Ela ressalta que sentiu Deus a sustentando. “Quando precisava ser forte para dar um simples abraço e as lágrimas me consumiam, sentia Deus me amparando e me ensinando a ser forte para dar forças a quem precisava. Era nítido no olhar das pessoas o sentimento de gratidão, o sorriso e a respiração aliviada por conseguir algo simples como água, casaco, cobertor e comida. Algo que é tão simples e às vezes desprezado por nós se torna o motivo da felicidade de alguém. Isso ainda me tira lágrimas dos olhos, porque passei muita dificuldade com a minha mãe e irmãos na época que tinha 7 anos e minha mãe se divorciou do meu pai. Por muito tempo fomos ajudados por meu tio, e estando ali no Rio Grande do Sul, eu pude sentir o que era ajudar quem verdadeiramente precisava ser ajudado. Acho que o exemplo que meu tio deu a mim foi aprendido com sucesso mesmo eu sendo nova e não tendo dimensão do que era ajudar alguém por amor, como ele fez por nós muitas vezes”, relembra emocionada.

“Para que”

Kamila explica que estar vivenciando aquela situação de perto, no primeiro momento, deu um choque de realidade e logo em seguida, a vontade de mudar a realidade daquelas pessoas (mesmo que de momento). “Uma coisa que certamente mudou em mim foi o ‘não murmurar’, ainda estando lá eu mesma me perguntava quando me deparava com determinadas situações: ‘Você murmurava por que mesmo?’ Questionei a Deus, muitas vezes, o porquê Ele havia permitido que aquilo acontecesse. Mas, com o passar dos dias, o ‘porquê’ deu lugar ao ‘para que’: Para que o Senhor permitiu que isso acontecesse? Qual a razão para tudo isso? O que o Senhor quer mostrar ao seu povo? O que quer que aprendamos com isso? Mas preciso ser honesta e admitir que muitas ainda seguem sem respostas, mas sei que no momento certo entenderei”, enfatiza.

Ela conta que em uma das conferências do Avante Paraná realizada pela Igreja Quadrangular, ouviu de um ministro a seguinte frase: “Aquele que não sabe receber impactos, nunca será capaz de impactar”. “E o recado que deixo é: permita ser impactado pelo Senhor e deixe que Ele use a sua vida para impactar outras pessoas, sua missão de vida é intransferível, seu propósito só você pode cumprir”, finaliza.

“Há maior felicidade em dar do que em receber”

O empresário rondonense Rafael Schroder (41), acredita que pequenos atos podem causar um grande impacto na vida das pessoas. É dessa maneira que expressamos o amor de Jesus na vida dos outros. “A enchente no Rio Grande do Sul causou uma tragédia na vida de muita gente. Famílias que perderam móveis, casas, comércios e outros que perderam familiares, numa cena de muita destruição. Mas, uma tragédia dessas desperta o ato de generosidade na vida de muitas pessoas. Podemos ver quanto somos receptivos à dor dos outros através das mobilizações para ajudar as cidades do nosso estado vizinho. Quantas pessoas vimos envolvidas em arrecadar donativos para as famílias atingidas, e quantas pessoas vimos fazendo doações de todos os tipos para enviar a quem estava precisando. Tantos outros estavam lá nas cidades para ajudar no que podiam. Nós fomos um desses grupos, que saímos de casa com o coração cheio de amor para ajudar aqueles que precisavam naquele momento. Partimos para a cidade de Roca Sales (RS) num grupo de seis amigos, com equipamentos pesados como retroescavadeiras e caminhões para auxiliar aquela cidade. Encontramos um lugar devastado pela enchente. Toda a parte central da cidade foi destruída. O rio Taquari faz uma curva bem acentuada próximo à cidade, e com a cheia não conseguiu fazer essa curva e invadiu a cidade, destruindo tudo o que tinha no caminho. Toda parte comercial foi afetada. Supermercados, farmácias, indústrias, bancos, tudo foi destruído. Casas foram arrancadas com a força da água, e em alguns casos até o terreno onde estavam construídas desapareceu. Naquele cenário estávamos nós, fazendo aquilo que estava ao nosso alcance. Seis amigos de longa data, representando nossa cidade e representando cada um de vocês que ajudou da forma que pôde”, explica.

Uma expressão de amor

Rafael acredita que a dificuldade de alguém desperta a generosidade em outros. Jesus disse: “Há maior felicidade em dar do que em receber”. E nós podemos vivenciar essas palavras. Nós podemos sair de casa para auxiliar aqueles que necessitam. “Por diversas vezes, repeti essas palavras de Jesus ao nosso grupo. ‘Há maior felicidade em dar do que em receber’. Atos 20:35. Nós colocamos nossa generosidade em prática. Ser voluntário é uma expressão de amor, e pudemos fazer isso através do nosso trabalho, auxiliando tantas famílias atingidas. Jesus veio para servir e enfatizou o amor ao próximo. E como Ele mesmo declarou em Mateus 25:35-40, sempre que socorremos alguém, fazemos isso como um ato de amor ao próprio Senhor Jesus”, enfatiza.

Generosidade

Ele explica que, nos primeiros dias, fizeram mais a limpeza de ruas, removendo a lama e entulhos. Nos dias subsequentes, entraram nas casas, tirando a lama e lavando com o caminhão pipa que haviam levado. Com esse trabalho nas casas, puderam ter um contato mais direto com as famílias, e sentir a dor deles. “Pude tirar um dia somente para visitar as famílias, sentar-se com elas, conversar, ouvir, chorar com eles e orar. A cada visita, uma nova história de superação, de tantas enchentes, de esperança, de recomeço. Seu Tom, um senhor de um bairro retirado e longe do rio foi afetado, sua casa era alugada. Ele agradeceu muito a nossa equipe por ter auxiliado eles na limpeza da casa, e eu disse a ele novamente as palavras de Jesus: ‘Há maior felicidade em dar do que em receber’ e então emocionado ele disse que iria se mudar para Novo Hamburgo, e que naquele dia era ele que estava sendo ajudado, mas que um dia será ele que irá ajudar e poderá dizer essas palavras de Jesus a alguém. Isso mostra como a generosidade gera generosidade, e é gratificante ouvir isso de alguém que naquele momento estava passando por tanta dificuldade”, relembra emocionado.

“Ser voluntário”

“Servir é algo que me motiva. Quando nos fazemos servos dos outros, enchemos nosso coração com o sentimento da alegria. A essência do trabalho voluntário é dedicar um tempo da sua vida para transformar e impactar a vida dos demais. Essa dedicação e o amor ao próximo são essenciais para aqueles que mais precisam. É a partir disso que você muda a vida de diversas pessoas e traz um impacto positivo à sociedade. Essa missão no Rio Grande do Sul, mostrou a nós, seis amigos, que podemos fazer mais a aqueles que precisam. Fomos para ajudar o próximo, e fizemos isso de todo coração. Vivenciamos momentos e histórias que jamais serão esquecidas. Conhecemos pessoas que, apesar de todas as dificuldades, estavam com sorriso no rosto e com o coração cheio de fé para seguirem firmes. Fortalecemos os nossos laços de amizade e tivemos momentos de comunhão e fé que ficarão marcados em nossas vidas. Ser voluntário, ajudar o próximo é algo gratificante, e eu faço por amor. Assim como disse Jesus ‘O Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos’”, finaliza.