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Sesc: educação e amor transformando vidas

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Sesc: educação e amor transformando vidas

Por Jornalista Kelli Cristina Scherer

Transformar gerações: eis um grande desafio! Contribuir para que a sociedade tenha maior qualidade de vida, saúde, desenvolvimento e os mais diversos adjetivos que poderíamos mencionar, são características do Serviço Social do Comércio (Sesc) que, em Marechal Cândido Rondon, completou 30 anos de atuação e no Paraná, 75! E como faz isso? Com inúmeros projetos e ações voltadas à comunidade. Uma delas, em específico, chama a atenção, sendo a base de uma sociedade com mais equidade: a educação… nas mais diversas esferas. Nesta reportagem, iremos abordar a educação infantil: um trabalho lindo, desenvolvido com muito amor por uma equipe diferenciada, que inclui a todos para que possam se desenvolver de maneira integral, com suas particularidades sendo respeitadas. E é neste sentido que destaca-se o atendimento a crianças autistas que, no Sesc, são tratadas com muita atenção e carinho.

Transformando gerações…

O Gerente Executivo do Sesc de Marechal Cândido Rondon, Fernando José Caetano Costa Ferreira, iniciou na entidade em 2014, em Curitiba, como assistente técnico, e está à frente da equipe rondonense desde fevereiro deste ano. Ele acredita que o Sesc existe para proporcionar bem-estar e qualidade de vida, buscando oferecer uma opção de qualidade com preços que favoreçam primeiramente os comerciários, prestadores de serviços e seus dependentes. “Em Marechal, o Sesc oferece à comunidade Educação Infantil, inglês, os projetos de contraturno para escolas do município ‘futuro integral’ e ‘aprender e jogar’, locação de quadra coberta e quadra de areia, academia, pilates, grupos de idosos, corte e costura, odontologia e turismo e as ações pontuais que são realizadas durante o ano, como circuito de corrida, circuito de xadrez,  copa Sesc Verão, copa Sesc fut 7 sub 15, Dia do Desafio, o projeto BiblioSesc, Ação do dia mundial da limpeza de rios e mares, Semana Literária, entre outras ações de conscientização”, explica.

Fernando ressalta que transformar uma geração é um trabalho que acontece a várias mãos, entre eles, a família, a sociedade, as pessoas, a educação, a cultura, o desenvolvimento das pessoas e a consciência de que podemos construir um mundo melhor. “O Sesc é uma referência de integridade e seriedade, e em todas as cidades onde tem uma unidade do Sesc, buscamos continuamente oferecer às pessoas um lugar que faça a diferença, que seja atuante na sociedade. Aqui em Marechal conhecemos pessoas que estudaram no Sesc e hoje trazem seus filhos para estudarem conosco ou até mesmo participar de uma atividade; isso é sinal de que nossa atuação tem passado de geração em geração em trazer qualidade para os dias das famílias e esperança de um mundo melhor”, enfatiza.

Uma proposta diferente…

Na educação infantil, atualmente, o Sesc atende a duas crianças com autismo, consideradas de intensidade severa.  “O Sesc trabalha com uma proposta diferente do tradicional; na educação infantil, a criança aprende através da brincadeira, da convivência e da criação, não trabalhamos com nada pronto, tudo é construído e criado com as crianças: elas trazem os seus interesses e junto com as professoras são desenvolvidos os temas que iremos trabalhar. Com isso, vem os desafios de, através da criação e das brincadeiras, aprender! Por exemplo: trabalhamos o tema de insetos… as crianças criaram um formigueiro, um apicultor veio na escola e mostrou todo o processo da produção de mel, os alunos trouxeram insetos, como joaninha, grilos e a partir disso, estudaram a diferença de cada inseto, desenharam e montaram insetos. Quando estudamos sobre os animais, eles foram na fazendinha da cidade, fizeram uma vaca de papelão que produzia leite… quando estudamos o fundo do mar, foram até o aquário da cidade vizinha de Toledo… e assim por diante. Para um aluno autista, percebemos que essa proposta proporciona uma inclusão natural, pois eles têm disposição de realizar as atividades manuais e ver coisas novas; com isso, o desenvolvimento é notório”, explica.

No Sesc, as crianças aprendem, acima de tudo, sobre convivência, pois sempre realizam as atividades em conjunto, as mesas são para quatro crianças, o trabalho em equipe e o aprender a dividir, respeitar, brincar, tudo é feito no coletivo. “Aqui, as crianças são crianças e a opinião de cada uma é importante. Com isso, vemos o resultado na família, principalmente na alegria de verem seus filhos sendo bem cuidados e fazendo parte de tudo que eles devem fazer parte”, explica.

Aprender…

Fernando Ferreira, Gerente Executivo do Sesc de Marechal Cândido Rondon: “Todos temos desafios, mas ser feliz e grato é uma escolha que temos que fazer todos os dias”

Questionado sobre os principais desafios na educação infantil voltada a crianças com autismo, Fernando acredita que dentre as dificuldades, pode-se destacar a sensibilidade principalmente ao barulho e à comunicação. “A resposta que um autista dá é diferente, pois eles ouvem mas, muitas vezes, não respondem. Com eles, aprendemos como é importante aquilo que fazemos! Aprendemos como todas as crianças precisam de oportunidade e amor e com isso vemos como elas desenvolvem sendo autistas ou não, aprendemos a entender as diferenças, sermos mais empáticos, nos esforçar mais. Toda criança precisa de amor e um ambiente de proteção. É muito importante que os pais também estejam conectados com a escola e principalmente com a criança. Por isso: brinque muito, sorria, passeie, viaje, estude, entenda como seu filho se comunica e como se comunicar com ele, seja feliz da forma que for… todos temos desafios, mas ser feliz e grato são escolhas que temos que fazer todos os dias”, finaliza.

Autonomia e confiança

Adriani Maria Niederle, técnica de atividades em educação do Sesc Marechal e coordenadora do setor de educação infantil da unidade, acredita que o Sesc pode transformar gerações pelo papel fundamental que exerce na transformação de vidas, por meio de suas atividades e programas diversificados. “Um dos principais objetivos do Sesc é promover o desenvolvimento humano em sua totalidade, proporcionando acesso à educação, cultura, esporte, lazer e saúde para os seus conveniados, contribuindo para a formação de cidadãos mais conscientes, críticos e participativos. Além disso, também investe em programas educacionais gratuitos, buscando reduzir as desigualdades e oferecer oportunidades para que todos tenham acesso à educação de qualidade. A missão do Sesc é promover ações socioeducativas que contribuam para o bem-estar social e a qualidade de vida dos trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo, de seus familiares e da comunidade, para uma sociedade justa e democrática”, explica.

Adriani Niederle, técnica de atividades em educação do Sesc Marechal: “O Sesc pode transformar gerações pelo papel fundamental que exerce na transformação de vidas”

Com relação ao atendimento às crianças com autismo, ela destaca que o Sesc busca criar um ambiente acolhedor, respeitando e garantindo o direito da criança de ser criança, através de atividades adaptadas às suas necessidades específicas, permitindo que ela participe de forma ativa e se sinta pertencente ao grupo escolar. “O atendimento diferenciado é realizado por meio de atividades diversas que promovem a interação social de maneira gradual e respeitosa. Ao serem valorizadas e compreendidas em um ambiente inclusivo, as crianças autistas têm a oportunidade de desenvolver sua autonomia e confiança. Isso contribui para que elas se sintam mais seguras e se envolvam mais nas atividades propostas. As crianças autistas geralmente têm interesses específicos e intensos em determinados temas. Para incorporar esses interesses, as atividades são adaptadas de acordo com as necessidades individuais de cada criança, tornando-as mais atrativas no processo de aprendizagem.  Esse processo tem um impacto positivo na vida da criança autista, ajudando a desenvolver a autoestima e a confiança para uma vida escolar mais feliz e realizada”, destaca.

Um ambiente acolhedor…

Adriani acredita que um dos maiores desafios que os educadores enfrentam para trabalhar com crianças autistas é criar um ambiente acolhedor. “A maioria das crianças autistas apresentam sensibilidades sensoriais, o que significa que podem reagir de forma intensa a estímulos auditivos, visuais, táteis ou olfativos. Ambientes barulhentos, luzes fortes ou certos tipos de texturas podem desencadear respostas negativas.  Outro desafio, na maioria dos casos, é a comunicação: as crianças autistas frequentemente têm dificuldades na comunicação verbal e não verbal. Isso pode tornar difícil para elas expressar suas necessidades, compreender instruções ou interagir com os colegas. Alguns comportamentos desafiadores, como agressão, ou estereotipias, que podem ocorrer em crianças autistas, também são desafios constantes. Assim, os professores precisam estar preparados para gerenciar essas situações de forma calma, respeitosa e segura, buscando entender as causas subjacentes e implementar estratégias de apoio adequadas. As crianças autistas têm nos ensinado a importância de aceitar e incluir pessoas com diferentes habilidades e perspectivas. Elas nos ensinam a valorizar a diversidade e a criar ambientes onde todos são respeitados e valorizados. Muitas crianças autistas se comunicam de maneiras não verbais, usando gestos, expressões faciais ou outros meios alternativos. Isso nos lembra que a comunicação vai além das palavras e nos encoraja a prestar atenção em outras formas de expressão. Crianças autistas frequentemente têm uma atenção aos detalhes altamente desenvolvida. Elas podem notar coisas que os outros ignoram e nos ensinam a apreciar os pequenos aspectos da vida e a ter um olhar mais atento para o mundo ao nosso redor. À medida que aprendemos com elas, podemos crescer como indivíduos e como sociedade, promovendo a inclusão e a valorização de todas as pessoas”, ressalta.

Desafios para os pais

Cuidar de um filho autista pode ser desafiador em muitos aspectos, podendo haver momentos de desafio e incerteza. “Mas, esteja aberto a aprender e crescer junto com o seu filho. O autismo é um espectro, o que significa que cada pessoa é única e possui suas próprias necessidades e habilidades. Esteja disposto a adaptar-se, a buscar informações e a experimentar diferentes estratégias para ajudar o seu filho a prosperar. Seu amor incondicional e apoio são cruciais para o desenvolvimento do seu filho. Lembre-se que você é a pessoa mais importante na vida dele. Mostre-lhe carinho, paciência e compreensão. Celebre as conquistas, por menores que sejam, e incentive-o a explorar seus talentos e interesses. Nunca esqueça que o seu filho é especial e único, e ter um diagnóstico de autismo não define quem ele é. Ele tem um potencial infinito e pode trazer uma perspectiva única para o mundo ao seu redor. Não hesite em buscar ajuda profissional, se necessário, e lembre-se que você é o melhor guia do seu filho. Juntos, família e escola, podemos criar um ambiente de amor e aceitação, onde todas as crianças autistas possam florescer e alcançar seu pleno potencial”, orienta Adriani.

Um olhar mais compreensivo…

“…fazemos brincadeiras, jogos, cantamos, sempre mostrando que somos diferentes e precisamos respeitar um ao outro…”

Professora Aline Diesel: “Aprendi que é normal ser diferente e apesar das dificuldades, o importante é sorrir, ser feliz”

A professora Aline Natali Diesel, formada em Pedagogia e pós-graduada em Educação Infantil, está no Sesc há seis meses. Em sua turma, estuda um aluno autista. “Após observar por um tempo e conversar com os pais, percebi que era necessário trabalhar inicialmente com os colegas sobre o autismo, pois eles acabavam não entendendo muitos comportamentos vindos do nosso colega autista e isso acabava gerando alguns conflitos. Então, realizamos um projeto onde apresentei para eles de forma lúdica que o nosso amigo tinha autismo e que por conta disso, muitas vezes, fugia da sala ou mesmo que ainda estava aprendendo a falar, entre outras coisas…  fizemos brincadeiras, jogos, cantamos, sempre mostrando que somos diferentes e precisamos respeitar um ao outro e apesar de tudo aprenderam que podiam deixar o colega brincar junto, mesmo que fosse do jeito dele,  que quando ele empurrava não era porque não gostava deles, mas que era porque queria interagir com eles, que em alguns momentos era necessário que ele fosse dar uma volta para se sentir mais tranquilo, que a luz, o som e  o cheiro são muito mais intensos para ele e que por isso, muitas vezes, apagava a luz da sala seguidamente ou ficava agitado. O resultado foi muito positivo: as crianças passaram a olhar pra ele de uma forma mais compreensiva, não deixam mais ele de lado ou mesmo ficam bravos em certas situações; o abraçam e chamam para ver o caminhão quando passa um na rua, porque sabem que ele gosta muito de caminhão. Como nosso colega ainda está desenvolvendo a fala, procurei observar coisas que ele possuía maior interesse para ir trabalhando, também por meio de imagens e o incluindo  nas atividades pedagógicas mesmo quando em grupo, mas também respeitando seu tempo e interesse, conversando sempre, tentando entender o que precisa, perguntar coisas a ele, tentando estimular, não deixando muitos estímulos visuais na sala ou músicas com volume muito alto. Nesse período, já tivemos evolução, já está soltando algumas palavras, reconhece todos os colegas, as cores, animais, se alimenta sozinho e junto com os colegas e isso é extremamente gratificante. Em se tratando da família, temos que estar em contato a todo momento, pois é um trabalho extremamente importante onde um irá complementar o outro, inclusive regularmente fazemos atividades com as famílias na escola”, explica.

“Aprendemos muito com eles”

Um trabalho feito com amor sempre irá trazer bons frutos, então principalmente se tratando de crianças é necessário além de conhecimento e toda a parte técnica, que o professor olhe essas crianças com outros olhos, faça com que elas se sintam seguras e amadas, assim irá perceber com maior facilidade o que a criança precisa em cada momento, principalmente em se tratando de autistas que podem ser tão diferentes, que você terá que ir descobrindo. “Posso dizer que existem muitos desafios, tanto com o comportamento, quanto comunicação, socialização, rotina. Como os autistas possuem interesses restritos, é difícil engajá-los nas atividades ou algo que não seja de seu interesse específico. Na questão do comportamento, os empurrões, os momentos em que joga as coisas no chão, talvez esteja demonstrando que não está satisfeito com algo ou que está irritado. A dificuldade de, muitas vezes, não entendermos o que ele quer por ainda não ter desenvolvido completamente a fala, também acarreta na dificuldade de socialização com os colegas. Os desafios da rotina, de ficar sentado, de esperar para ir pro ambiente externo… é um desafio para mim, mas também é muito gratificante, e acima de tudo, um aprendizado a cada dia, pois aprendemos muito com eles, vibramos a cada pequena conquista e é isso que faz com que tudo valha a pena”, explica.

Aline destaca que, com a convivência diária com o aluno, teve muitos aprendizados. “Aprendi que é normal ser diferente e apesar das dificuldades, o importante é sorrir, ser feliz. Aprendi também que a inclusão não é somente colocar junto, mas também preparar o ambiente e as pessoas que irão conviver. Entendi que preciso respeitar o tempo, traçar metas curtas e comemorar cada vitória por menor que seja. Existem diversas formas de ensinar a mesma coisa. Também aprendi que somos capazes de superar nossos desafios, por maiores que eles sejam: é necessário insistir e nunca desistir”, finaliza.

Família e escola

Jaqueline Pletsch, professora pós-graduada em Gestão Escolar e Neuropedagogia, trabalha no Sesc há oito anos. Ela é professora do Álvaro, que é autista e que teremos a oportunidade de conhecer um pouco melhor na sequência desta reportagem.

Professora Jaqueline Pletsch: “Tenho aprendido muito sobre gratidão, por cada olhar e abraço que recebo dessa criança”

Jaqueline conta que procura fazer adaptações no conteúdo, pois é muito importante que ele aprenda o mesmo que seus colegas, ainda que com recursos específicos e em um tempo diferenciado. “Aproveito os interesses em temas que ele tem e insiro esses temas em suas atividades em sala de aula para atrair a sua atenção e conseguir com que ele se concentre nas tarefas por mais tempo. Quanto à família, todos os dias relato a eles no final da aula como passou a manhã, busco saber quais terapias e estímulos o aluno recebe fora da escola, para ajudá-lo a encontrar as melhores formas de incluí-lo em sala de aula. Acredito que esse atendimento permite que a criança aprenda e se desenvolva e não apenas brinque ou se sinta inserido em sala de aula sem um planejamento pedagógico adequado, que considere suas dificuldades, habilidades e necessidades”, relata.

Nunca, nunca desistir!

A professora Jaqueline acredita que é importante entender que não há uma criança com autismo igual a outra: algumas falam, outras não; umas têm dificuldade de aprendizado, outras são superdotadas… ou seja, cada criança tem que ser analisada de acordo com a sua individualidade e o atendimento adaptado da melhor maneira possível, a aceitação e participação por parte da família faz toda a diferença nesse processo, bem como ter uma equipe engajada que preste o apoio que o professor necessita. “Para mim, é um desafio. Me dedico buscando conhecimento para que a criança aprenda, se desenvolva e se sinta envolvida no contexto escolar, visto que a inclusão é inerente ao processo de ensino-aprendizagem. Tenho aprendido a respeitar cada vez mais o tempo e o ritmo que cada criança tem para se desenvolver. Tenho aprendido muito sobre gratidão, por cada olhar e abraço que recebo dessa criança que é como se dissesse ‘você me entende, me sinto aceito!’ Aprendi a insistir. Nunca, nunca desistir”, ressalta.

Um olhar da psicóloga…

A psicóloga Priscila Lopes Lamego Seifert ressalta que a parceria escola e família é fundamental no desenvolvimento da criança com Transtorno do Espectro Autista. De acordo com o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM- V-TR), o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento, que tem como principais características as dificuldades relacionadas à comunicação e interação social, a reciprocidade social, comportamentos não verbais de comunicação utilizados na interação e habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos; padrões repetitivos e restritos de comportamento. “É possível fazer analogia do Transtorno do Espectro Autista com um guarda-chuva, que abarca pessoas com características bem diferentes: há aquelas com nível 1 que são mais independentes e precisam de menos suporte, até o nível 3 que precisam de maior auxílio e não falam, por exemplo. Frente ao exposto, é importante que o diagnóstico aconteça de forma precoce, pois a intervenção contribuirá para a melhora do desenvolvimento e ajudará a criança a aprender novas habilidades que poderão lhe proporcionar mais independência ao longo da vida. A intervenção acontece por uma equipe multiprofissional que geralmente é formada por Psicólogos, Fonoaudiólogos, Terapeutas Ocupacionais, Acompanhantes Terapêuticos, Psicopedagogos, Nutricionistas e Médicos”, destaca.

Psicóloga Priscila Seifert: “Desejo que a empatia seja a melhor ferramenta para acolhimento das crianças que enxergam o mundo de uma forma diferente”

Em relação ao processo de escolarização, Priscila explica que é de extrema importância a harmonia e proximidade entre família e escola no desenvolvimento da criança com TEA, para que seja estabelecido um trabalho em conjunto e favorável para aprendizagem da criança. “Para que a inclusão efetiva aconteça, é necessário enxergar e acolher a criança de forma sensível e respeitosa, enxergá-la como um todo, como pessoa que é, com suas necessidades e potencialidades. A família tem papel fundamental na trajetória escolar da criança com TEA; o diagnóstico pode causar rejeição, negação ou rupturas no contexto familiar, nesse caso é importante que a família busque ajuda profissional para trabalhar a aceitação e o acolhimento da criança com TEA, pois a necessidade de aceitação e envolvimento da família é importante para que o trabalho realizado na escola tenha continuidade em casa. A família e a escola apresentam papeis extremamente importantes na educação da criança e ambas as instituições precisam se adaptar para o desenvolvimento da criança com TEA. Dessa forma, é necessário a família atuar como apoio da escola e vice-versa, com objetivo de estarem alinhadas para que a educação vá além da alfabetização e que também tenham foco nas atividades relacionadas à vida diária, como escovar os dentes, arrumar o lanche e nas habilidades sociais. Algumas estratégias podem favorecer a parceria da escola e a família, como reuniões periódicas, com o objetivo de trocar informações que auxiliem positivamente no desenvolvimento da criança e nas adaptações a serem realizadas”, esclarece.

Proporcionar estratégias

“É importante buscar recursos para amenizar as dificuldades e evidenciar as potencialidades…”

Priscila comenta que é muito importante conhecer alguns marcos do desenvolvimento infantil, ou seja, o conjunto de habilidades que a maioria das crianças atingem em uma determinada idade. Os marcos ajudam as famílias e os profissionais da escola a perceberem quando o desenvolvimento da criança não está alcançando o esperado, e traçarem estratégias para que possam atender a criança em sua necessidade. “Conhecer os marcos do desenvolvimento pode ser um bom começo para tornar a educação inclusiva e assim respeitar a criança como ser único, sem tirar uma conclusão antecipada, baseada em indícios e suposições, pois toda criança é capaz de aprender. É importante buscar recursos para amenizar as dificuldades e evidenciar as potencialidades, estimular habilidades para o desenvolvimento da autonomia, proporcionar estratégias para a criança aprender e valorizar as características individuais de cada um. Assim, a parceira família e escola, além de beneficiar o tratamento das crianças com TEA e tornar-se um ambiente favorável para o desenvolvimento de suas habilidades, favorece a possibilidade de crescimento para os pais e escola com as trocas de experiências e aprendizados”, enfatiza.

A psicóloga compartilha a frase de Carl Jung: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”. “Assim reforço a importância da busca do conhecimento para vencer preconceitos com base em julgamentos; e desejo que a empatia seja a melhor ferramenta para acolhimento das crianças que enxergam o mundo de uma forma diferente”, finaliza.

“O acolhemos como ele veio pra nós”

Álvaro Jochims da Silva é filho de Geisa e Ederson, casados há 15 anos. A mamãe conta que o pequeno teve o diagnóstico fechado de autismo aos quatro anos, em 2022. Ele já havia feito consulta com Neuropediatra em 2021, mas naquele ano, foi diagnosticado apenas com atraso na fala. “Percebíamos que ele tinha algo diferente, mas não sabíamos dizer o que era. Víamos que ele tinha certos comportamentos diferentes das crianças ‘normais’. Ele demandava uma atenção maior, um monitoramento maior do que as outras crianças da idade dele. Primeiramente, o sono dele era muito difícil. Na verdade, não o sono em si, mas a dificuldade no adormecer. No caso, ele tinha o distúrbio do sono, que é uma das comorbidades do autismo. Chegava a levar duas horas para dormir e isso desgastava a todos. Posteriormente, a fala que não acontecia. Começou a falar em fevereiro de 2022, quando retornou para a creche após a pandemia, porém em uma semana já estava formando frases”, explica.

Geisa e Ederson, com o filho Álvaro: “Autistas são seres extraordinários. São genuínos em tudo!”

E como foi ter esse diagnóstico? “De imediato, você meio que vivencia um luto. Depois, você imagina como vai ser… quando o casal descobre que serão pais, imagina-se um filho ‘perfeito’. O acolhemos como ele veio pra nós. Tanto que, na consulta em que fechou-se o diagnóstico, falamos para a médica se realmente ele tinha alguma coisa ‘diferente’, gostaríamos de saber, pois queríamos tratar de acordo com a realidade e a necessidade dele”, relata emocionada.

Acolhimento

Geisa conta que o Álvaro gosta bastante de ir ao Sesc; nos dias em que não tem escolinha, ele pede para ir. “É notório o carinho que ele tem pelas professoras, em especial pela ‘profe Jaque’ e pelo diretor Fernando. Álvaro, como a maioria dos autistas, costuma ‘eleger’ uma pessoa, com a qual tem mais proximidade e intimidade no convívio diário. Esse atendimento com amor das professoras e de toda a equipe faz com que seja criada uma relação de confiança com a criança. Ajuda a estimular seus pontos fortes, apresenta melhoras em sua socialização, tanto na escola como em casa. Aumento da autoestima, o aluno passa a tomar iniciativas e recebe acolhimento também pelos colegas da classe. E assim, aos poucos, a comunidade autista vai ganhando representatividade e conquistando os direitos básicos”, enfatiza.

“Deus nos contempla com as diferenças”

Geisa acredita que os principais desafios de pais de crianças com autismo estão relacionados ao pouco apoio de programas sociais, alcance às terapias de desenvolvimento, dificuldade aos direitos da criança autista, além da falta de informação da sociedade. “É um desafio total. Uma simples ida ao supermercado é um desafio. Eles são seres de rotina e previsibilidade. Por mais que adiantamos as informações, os acontecimentos, alguma coisa pode desregular eles e gerar crises. E essas situações, aos olhos de pessoas desinformadas, são compreendidas como ‘filho mal educado’, ou ‘pais permissivos, não dão educação’… ou a famosa frase ‘Ahh se fosse meu filho’. Autistas são seres extraordinários. Eles vieram ao mundo para nos ensinar a amar sem cobrança. São genuínos em tudo! Aprendi que é normal ser diferente, a respeitar o tempo. Que o período da espera é o momento de conexão com Deus. A ser mais paciente, questionar o que é o ‘normal’, valorizar as particularidades. Não importa o tamanho da dificuldade, se ensinarmos do jeito certo, todos podem aprender. Deus nos contempla com as diferenças para que cresçamos em humanidade”, finaliza.

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