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“Cresceu um povo hospitaleiro… Rondon orgulho do Oeste”

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“Cresceu um povo hospitaleiro… Rondon orgulho do Oeste”

Você já fez ou participou de uma mudança? Mudou de cidade, de estado de país, ou apenas mudou de casa? Quais foram as suas preocupações, ou preocupações das pessoas envolvidas nesse processo? Levar as roupas, móveis, ferramentas, mantimentos? Podemos ter certeza que se você mora onde está hoje, é muito provável que algum dos seus antepassados migrou ou imigrou. No nosso município, uma grande parcela da população descende de imigrantes europeus, e eles, quando vieram ao Brasil, também trouxeram roupas, ferramentas, mantimentos… porém, trouxeram algo muito mais importante e que não se pode carregar com as mãos: a fé em Deus, a certeza de que mesmo em uma terra desconhecida e estranha, não estariam só, porque Ele os acompanhava. E graças ao trabalho árduo e muita fé, hoje vivemos em uma cidade próspera e hospitaleira, nossa querida Marechal Cândido Rondon, que no dia 25 de julho, completa 64 anos… e na mesma data, celebra-se também 200 anos da imigração alemã ao Brasil… são muitos motivos para comemorar!

 

Uma linda história…

Orlando Miguel Sturm (84), nasceu em Vila Rica, Sarandi (RS) e mora em Marechal desde 26 de julho de 1957 (há 67 anos). Casado com Marina Sturm (Gosenheimer de casa) desde 15 de julho de 1967, é pai de Rafael e Fabiane. Membro da IECLB, comunidade Martin Luther. Fundou a Casa Orlando, que em 01 de junho de 1966, completou 58 anos. Também foi o primeiro vendedor de semente e adubos (Manah) em grande escala (antes mesmo da Copagril). Sempre foi socialmente ativo, participando de vários cargos e diretorias nos mais variados setores, como Acimacar, Rotary, Associação de suinocultores, presidente da paróquia, etc.

Seu pai, Henrique Afonso Sturm, veio em 1951 para o povoado de Mercedes Velha (hoje Novo Horizonte) para construir uma serraria. Da família, a princípio não veio ninguém. Henrique veio para cá viúvo. Orlando veio pela primeira vez junto com seus tios em 1954, para conhecer. Voltou para o RS para continuar seus estudos (Colégio Evangélico Alberto Torres, em Lajeado) e a cada ano vinha visitar. Veio definitivamente em 26 de julho de 1957, com 17 anos. “Nesse ano, seu pai, Henrique já havia se casado novamente e havia transferido residência para General Rondon para assumir a sub prefeitura de General Rondon, então distrito de Toledo. A atual Marechal Cândido Rondon fazia parte da fazenda Britânia, dirigida por Willy Barth, foi idealizada para abrigar os descendentes alemães, brasileiros, estrangeiros, evangélicos luteranos e através da cultura por eles trazida, formou-se a cultura rondonense.  A influência da cultura alemã se deu na arquitetura, na comida, na religião, na língua, nas tradições, na vestimenta, ou seja, em praticamente todos os aspectos”, destaca.

Orlando explica que a Vila de General Rondon foi planejada, com as quadras de 100x100m e 12 terrenos. O projeto inicial contemplava quatro praças e era rodeado por chácaras, com intuito de proteger as nascentes. Havia também um projeto de um campo de aviação (100m x 1400m) na área onde hoje é a Unioeste, Estação da Copel e o Campo Do Oeste (Estádio Municipal atual). “De 1950 até 1954 tudo aconteceu na Vila. Devido à necessidade e a união do povo que aqui estava, formaram-se as igrejas, clubes, escolas, comércio e indústrias, etc. As igrejas tiveram papel fundamental na união das pessoas que aqui moravam e chegavam. Era a principal forma de socialização e através delas que se construiu um novo povoado, que futuramente virou o município de Marechal Cândido Rondon. A colonizadora Maripá doou os lotes e a madeira para a construção das igrejas, das escolas, do hospital Filadélfia, da Prefeitura antiga e do cemitério. A também ajudou na construção do Hotel Brasil e Hotel Avenida. Estes foram construídos para abrigar os imigrantes que aqui chegavam antes de terem suas propriedades”, explica.

Ele conta que a colonizadora Maripá também construiu dois barracões próximas à vertentes de água (com espaço para até seis famílias em cada), para abrigar as famílias que aqui chegavam até que suas casas ficassem prontas. Após 1954, surgiu a igreja Católica de alemães e italianos, dando início à chegada de outras culturas na Vila. “No início da Vila, não havia água encanada e nem luz. A comunicação era feita pelo ‘boca a boca’, por cartazes ou através de fogos (soltava-se um foguete e as pessoas saiam de casa para ver o que estava acontecendo). Em 1970, haviam apenas cinco aparelhos de televisão no município. As pessoas socializavam mais, pois não havia opções mais tecnológicas, como hoje. Muito da cultura e das tradições foram se perdendo com o avanço das tecnologias”, acredita.

Orlando destaca que uma das preocupações da Colonizadora Maripá era constituir o município de forma organizada. “As ruas de Marechal são exemplo disso: de Norte a Sul (paralelas à Avenida Rio Grande do Sul), são nomes de estados e de Leste a Oeste, são datas históricas”.

Na emancipação, Marechal herdou os então distritos de Quatro Pontes, Mercedes, Ente Rios do Oeste e Pato Bragado, hoje municípios.

 

Gratidão!

Orlando faz questão de agradecer e fazer uma homenagem especial aos moradores que tiveram coragem e enfrentaram os mais variados tipos de problemas e dificuldades para aqui chegarem e se estabelecerem, percorrendo estradas por vários dias, morando muitas vezes em barracões sociais até conseguirem suas próprias residências. Pessoas que tiveram que ajudar a derrubar as matas para darem início a uma vila planejada. “Agradecimento também aos prefeitos, vereadores e subprefeito; aos pastores, padres e professores; médicos, enfermeiras e parteiras; comerciantes, industriais e todos aqueles colaboraram para o desenvolvimento de nosso município. Em especial, ao Empório Toledo (onde fui funcionário de 1957 a 1965) e seu diretor Egon Pudell, responsável pela administração de um comércio que comprava e vendia tudo aquilo que era necessário para suprir as necessidades dos moradores da vila. Outro nome que não pode deixar de ser citado é o Sr. Valdi Winter. Ele foi corretor de imóveis responsável pela vinda de agricultores gaúchos para General Rondon. Ele foi também o primeiro vereador eleito de Toledo com número expressivo de votos”, destaca.

 

Grande influência da cultura alemã                                                                                                                                                                            Venilda Saatkamp (80), é natural de Santo Angelo (RS) e neste ano, completa 70 anos morando em Marechal Cândido Rondon. Casou em 7 de janeiro de 1967, com Romeu Saatkamp; tiveram três filhos: Barbara Simone, Carlos Henrique e Katia Eliza. Frequenta a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, fazendo parte da Comunidade Martin Luther. “Vim para Marechal com minha família, três irmãos e uma irmã, o pai Aloicius Mees e a mãe Herta Wohlenberg Mees, no dia 20 de agosto de 1954, aos 11 anos de idade. Levamos dois dias e meio de viagem com a mudança. Chegamos aqui com forte neblina e chuvisco. Os filhos estavam em cima do caminhão, em baixo de uma lona, junto com a mudança”, relembra.

Venilda acredita que a cultura alemã teve uma grande influência no início pela língua, o canto, a fé e o conhecimento do cultivo de pequenas propriedades e em especial, na educação. “Houve a preocupação da comunidade e da Colonizadora Maripá de construir escolas. Inicialmente, haviam só professores homens, mais tarde vieram professoras mulheres. A colonizadora teve a preocupação de logo destinar um terreno para cada comunidade construir sua igreja e ao lado dela, uma escola. A fé e os cantos foram fundamentais para fortalecer e unir as pessoas. A fé desde pequena foi e ainda é muito importante em minha vida, para enfrentar os desafios do cotidiano”, destaca.

 

Um livro especial

Autora do livro “Desafios, Lutas e Conquistas – História de Marechal Cândido Rondon”, Venilda conta que a ideia de escrever foi um sonho para preservar registros de pioneiros e aspectos históricos para as gerações futuras e se tornou possível quando foi lecionar na Faculdade. “Os desafios para ele sair do papel foram enormes, mas consegui a ajuda de alguns colegas professores e da família. O lançamento do livro foi em fevereiro de 1985, na aula inaugural da Faculdade FACIMAR”, relembra.

 

200 anos de imigração alemã: influência na fé e cultura do povo rondonense

De acordo com o pastor Ildemar Kanitz, diretor do Colégio Evangélico Martin Luther, para conhecer e entender melhor os detalhes do povo rondonense, precisamos olhar para a história. A data de 25 de julho de 1824 é tida como o marco da imigração alemã no Brasil. Naquele dia, aportavam em São Leopoldo (RS), os imigrantes que chegavam da Alemanha em busca de novas terras e mais qualidade de vida. Saíam da Alemanha porque, na época, o país enfrentava muitas dificuldades e já não havia mais terra para todos. Na maioria, eram famílias pobres carregando poucas malas com roupas e utensílios, mas quase todas trouxeram algo muito valioso em sua bagagem: a Bíblia, o Catecismo e Hinários. “Muito mais do que representar a forte fé e religiosidade do povo, a Bíblia, o Catecismo e o Hinário representavam um arcabouço cultural muito grande, pois poucas eram as pessoas que sabiam ler e escrever e estas se destacaram por estas habilidades. E esta capacidade trazia consigo um conjunto cultural que influenciou a cultura brasileira, pois desenvolveu nestas pessoas a capacidade de pensamento crítico, de buscar inovações, de não se conformar e nem desistir diante de dificuldades, a educação e a cultura artística. A fé e a cultura deste povo eram diferentes e ajudaram a estruturar, alavancar e moldar as pequenas comunidades que foram surgindo no sul do Brasil”, destaca.

Ildemar explica que, em nossa cidade e região, a colonização de imigrantes alemães foi muito forte, pois estes colonizadores alemães do sul vieram para nossa região oeste paranaense. E ao virem para cá, trouxeram também estas características já herdadas dos antepassados e que aqui destaco algumas:

– Herança alemã muito grande é a preocupação da população com um ensino de qualidade. Logo nos primeiros anos, os imigrantes se ocuparam com a construção de escolas para todos, além de atividades extras no contraturno para melhor desenvolvimento das crianças. E assim é até hoje.

– Rondon é destaque na quantidade de comunidades religiosas ativas. E isso é facilmente perceptível aos domingos à noite, com missas e cultos muito bem frequentados, além do envolvimento das igrejas em movimentos sociais que buscar maior qualidade de vida para a população.

– O forte princípio associativista em nossa cidade. São pelos menos 10 cooperativas ativas gerando desenvolvimento, além de um número maior ainda de associações sem fins lucrativos que se ocupam com a qualidade de vida das pessoas. E isso é raro de ver em outras cidades do Brasil. Não raro, ainda hoje rondonenses viajam para Alemanha para conhecer os modelos cooperativistas originais.

– Muito mais do que a média nacional, a cultura artística é muito presente. Percebe-se de várias maneiras como temos pessoas com conhecimento musical: cantores, bandas, corais, instrumentistas e outros. São várias associações criadas especificamente para fins artísticos-culturais. Temos uma Casa Cultural com vários projetos e, em breve, teremos um dos melhores teatros do Brasil.

– A culinária alemã ainda tem forte espaço e influência na vida dos rondonenses, como os pratos típicos e a tradicional bebida alemã, o chopp; e de maneira específica estas estão presentes na tradicional festa popular, a Oktoberfest, que é organizada há anos em nossa cidade.

– Uma característica que já foi muito forte e marcante na cidade é a língua alemã. Minha vó, por exemplo, nasceu e viveu no Brasil e não sabia falar Português, apenas Alemão. Infelizmente, por desprezo, preconceito e outras características, esta característica praticamente se perdeu e restam poucas pessoas que ainda falam em Alemão.

– Também as fachadas de prédios com estilo enxaimel outrora foi marcante e hoje pouco se vê.

– Ainda podemos dizer de alguns traços alemães em nossa população, apesar de não ser uma exclusividade, mas são características muito fortes: um povo muito trabalhador, organizado, honesto, humilde, empreendedor, destemido e arrojado.  Marechal já é uma cidade que se destaca nacionalmente e reúne em si inúmeras características para avançar ainda mais.

 

Dificuldades e união

Ilga Schneider (75), é natural de Rancho Grande, distrito de Concórdia (SC). Filha de Oscar Schneider (pais Schneider e Kaizer) e Selma Krug (pais Krug e Augustin), seus avós vieram do Sul da Alemanha em 1899, da cidade de Dichtelbach. “Saímos de Santa Catarina em outubro de 1951, moramos por dois meses em Toledo, aonde também somos pioneiros. Em dezembro de 1951, teve vaga em duas salas de um dos barracões da Cia. Colonizadora Maripá para a nossa família, composta por Oscar e Selma, seus filhos Edgar, Norma, Dalia (que faleceu em 1961, aos 25 anos), Hedy, Ilse e Ilga. Os pais, seu irmão Edgar e sua irmã Dalia (in memoriam) saíram de Toledo e vieram para General Rondon, que mais tarde mudou o nome para Marechal Cândido Rondon, aonde existia muita mata, animais silvestres, terra vermelha, muito barro e pó, difícil locomoção; para atendimento médico tinha que ir a Toledo ou Cascavel, alimentos industrializados haviam somente em outras cidades grandes, era difícil, mas o importante era o companheirismo, solidariedade e a simplicidade do povo naquela época”, destaca.

 

Apidemar

Ilga conta que teve uma infância tranquila, mesmo ficando sem i pai e irmã, a adolescência foi boa e divertida, pois sua família estava sempre unida, viveu uma vida pacata e simples; boas lembranças, difíceis momentos, mas com a Fé em Deus e o exemplo de Jesus, chegaram até aqui. “A Empresa Maripá direcionava as famílias por sua etnia em General Rondon, onde se estabeleceram descendentes de alemães, e também vieram as religiões Luteranas, que prevalecem até hoje. Em 2024, faz 73 anos que resido em Rondon, gosto muito de conversar com pessoas idosas, sendo elas pioneiras ou seus descendentes; por esse motivo, em 2002 fundamos a Associação dos Pioneiros e Desbravadores de Marechal Cândido Rondon (Apidemar), para manter viva a tradição e a memória dos pioneiros”, explica.

Neste dia 25 de julho de 2024, quando completam 200 anos de imigração alemã, Ilga sente-se com o coração cheio de gratidão. “Quero agradecer a Deus pela minha descendência e a família em que nasci, também agradecer a Deus pela boa e maravilhosa cidade que meus pais escolheram para viver, e agradecer a toda população Luterana, rondonenses que até hoje fazem parte desse nosso amado município, incluindo todos que colaboram para termos uma cidade bela e boa para morar. Abraços, com Deus no comando sempre”, finaliza.

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