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Depressão: há luz no fim do túnel!
Ansiedade, medo, depressão, transtornos mentais, crises de choro, pânico, desespero… e por aí vai a lista de “adjetivos” nada legais e que vêm aumentando a cada dia. Infelizmente, os casos de pessoas com problemas relacionados à depressão e afins estão em níveis assustadores em nossa região.
Diante disso, trazemos uma reportagem esclarecedora, com vários entrevistados… e o mais importante: há luz no fim deste túnel. Mesmo que não pareça. Saiba que Deus está no controle de tudo e sempre de braços abertos para te levantar!
Leia e seja edificado:
A depressão
Adir Samuel da Costa é pastor há 33 anos, desde seus 21 anos. “Aos 14 anos de idade, entendi o chamado de Deus em minha vida para o ministério pastoral, que eu costumo chamar de ajudar pessoas. Antes mesmo de completar 18 anos, deixei a casa de meus pais em Porto Alegre e fui para Curitiba para estudar. No seminário teológico, me formei em Teologia e em Música Sacra. Anos mais tarde, entendi que a psicologia seria uma grande ferramenta para a compreensão do ser humano e consequente melhores condições de ajudar pessoas fora do meio cristão. Então, nos últimos 15 anos, a psicologia foi se tornando cada vez mais presente e importante em minha vida e ministério. É algo que é verdadeiro ministério (serviço) para mim”, destaca.
Adir explica que a depressão não é algo simples que consigamos definir em poucas palavras, mas sempre gosta de utilizar termos que a grande maioria das pessoas consiga entender. “Neste viés é que costumo começar lembrando que a depressão se caracteriza por uma grande, infundada e persistente tristeza, acompanhada dos sentimentos de desânimo, cansaço, falta de vontade até para as atividades mais simples e corriqueiras do dia a dia. Aquilo que antes produzia um grande prazer, agora passa a ser algo sem cor, sem vida… totalmente desestimulante. É cada vez maior o número de pessoas que sofrem de ansiedade e de depressão. Aliás, é importante observar que as pessoas ansiosas, no século XXI são conhecidas como empreendedoras e proativas. Isto tem sido algo muito preocupante para mim, enquanto profissional de saúde mental”, ressalta.
Quais os sinais de alerta que são demonstrados por uma pessoa que está com depressão? “Mudanças!! Mudança no humor, nos níveis de reação a estímulos que antes eram muito prazerosos. Irritabilidade, reclamações constantes acerca das condições normais da vida. Instabilidade e falta de persistência face às adversidades da vida. Tudo isto vai crescendo e vai levando o indivíduo a se esquivar da vida, dos encontros sociais, do trabalho… tudo se torna um peso”, relata.
Preconceito…
Falando do ponto de vista cristão: em algumas igrejas, ainda há a ideia de que o cristão não pode ter ansiedade, não pode ter depressão… mas, as pessoas precisam entender que são doenças! Diante disso, Adir destaca que infelizmente ainda encontramos muitos grupos cristãos que, por falta de conhecimento, imaginam que o filho de Deus não deve sofrer de doenças como ansiedade e depressão. “Entendo que precisamos difundir o conhecimento adquirido e isto ajudará nossos irmãos a conhecerem a verdade: vivemos vidas cheias de problemas, cheias de lutas e esta vida exige de cada um de nós a capacidade de enfrentamento de um verdadeiro turbilhão de coisas. Porém, não estamos o tempo todo prontos e preparados para toda esta realidade. É neste momento que nossas fraquezas e incapacidades se levantam contra nós, de mãos dadas com as dificuldades de nossas vidas. E isto é perfeitamente normal. Resultado da nossa condição de criaturas que ainda estão à espera da redenção plena e completa. No mundo, continuamos tendo aflições, como nos disse o nosso Mestre, Jesus”, enfatiza.
“O mais rápido possível”
O psicólogo e pastor orienta que uma pessoa que sofre com ansiedade e se sente triste, deprimida, deve buscar ajuda imediatamente. “Logo! O mais rápido possível. Esta ajuda deve ser primeiramente, o psicólogo e ele mesmo conseguirá orientar quando houver a necessidade de se buscar também outros profissionais de saúde. Conversar com a família e com os amigos, ajuda? Com toda a certeza. Mas a ajuda profissional colocará o indivíduo nas mãos de um profissional capacitado e experiente, que já cuidou de centenas outras pessoas e poderá proceder as avaliações, promover o autoconhecimento e orientar o tratamento em busca de alívio, melhora, crescimento e cura. É importante a pessoa entender que há luz no fim do túnel! Em minha experiência, já foram milhares de pessoas. Pessoas que no início do tratamento estavam totalmente desacreditadas, desanimadas, desmotivadas e mergulhadas em um mar de tristeza e falta de perspectiva. Um tratamento bem orientado, baseado na capacidade de o paciente confiar em seu terapeuta e assim sendo instrumentalizado para lidar de forma mais consciente e consistente no dia a dia, certamente fará toda a diferença”, explica.
Perceber que algo não vai bem…
E como as pessoas que convivem com esse familiar ou amigo pode contribuir para que haja superação? “Costumo asseverar que não é função de familiares e nem de amigos ‘resolverem’ as dificuldades do outro. Porém, eles têm um papel preponderante em dois pontos: perceber que algo não vai bem e incentivar a busca pela ajuda correta. Se não fossem estas pessoas, o indivíduo levaria muito mais tempo para perceber que algo não vai bem. Normalmente são os familiares e amigos que sugerem a busca pela ajuda, incentivam, insistem… muitas vezes brigam e fazem algum tipo de chantagem, porém com muito boas intenções. O que importa é começar”, finaliza.
Trabalho completo…
João Paulo Brunelo Miguel é psicólogo e tem mestrado em psicologia pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente, é atuante no Centro de Atenção Psicossocial I (CAPS I) – setor especializado em Saúde Mental do SUS de Marechal Cândido Rondon, bem como atende em consultório particular e é professor do Curso de Psicologia do ISEPE Rondon, na formação e treinamento de psicólogos. “No âmbito do SUS, trabalho em equipe multiprofissional, enquanto psicólogo da saúde. No CAPS I atendo pessoas com transtornos mentais severos, com quadros clínicos como depressões e ansiedades graves, transtorno bipolar, esquizofrenia, pessoas em risco de suicídio e dependências químicas. No consultório particular realizo psicoterapia individual com adolescentes e adultos com demandas de transtorno mental como as já citadas (especialmente depressão, ansiedade, risco de suicídio, transtorno bipolar, estresse psicológico, dependência química de álcool e outras drogas, etc). Enquanto psicólogo da saúde no SUS realizo consultas psicológicas periódicas com o público, tendo a referência deste trabalho ser articulado com uma equipe multiprofissional (com psiquiatra, enfermeira, assistente social, pedagoga), onde construímos com cada pessoa um projeto terapêutico específico de cada caso. No consultório particular, enquanto psicólogo clínico, atendo os/as clientes por meio de psicoterapia semanal, onde realizado junto a cada um análise de suas questões/queixas que os/as afligem no momento ou em suas histórias de vida, assim como construo com eles/elas estratégias para lidar e modificar aspectos de seu contexto para melhorar ou estabelecer autocuidado, autocontrole, sentimentos de propósito e sentido de vida, dentre outras referências que poderíamos nomear como autoconhecimento de maneira ampla”, explica.
Em Marechal Cândido Rondon…
João Paulo destaca que, em se tratando de depressão, infelizmente os dados são preocupantes em nosso município. Nos últimos cinco anos, de forma geral, Marechal Cândido Rondon tem apresentado dados epidemiológicos altos da incidência de depressão, na consumação de suicídios e de alcoolismo, por exemplo. “O fenômeno do suicídio, por exemplo, geralmente se atrela à presença de transtornos mentais, especialmente a depressão, pois neste quadro, quando agravado, é comum as pessoas referirem desânimo e sentimentos de perda de valor de si mesmo e de seus vínculos, associados a pensamentos de querer morrer, pra tirar a dor dentro de si. O perigo disto é quando a pessoa em crise suicida se sente desesperada e tem comportamentos impulsivos de se machucar ou atentar contra si própria. Por isso, nossa comunidade necessita trabalhar de maneira consistente e ampla em campanhas de sensibilização quanto à importância da acessibilidade a tratamentos em saúde mental, seja no âmbito do SUS e da esfera privada. Sobre a questão de uso de medicamentos, apesar de haver grande dispensa de remédios psicotrópicos – para tratamento de transtornos mentais – na Farmácia Básica do SUS, assim como na rede privada, usualmente prescritas por diferentes modalidades médicas, ainda observamos um aspecto cultural que impõe diversas barreiras quando o assunto é conscientização sobre a depressão ou sobre os transtornos mentais, pois se mantém em nossos círculos de convivência um clima social de intenso preconceito e discriminação com as pessoas que tem queixas de saúde mental, especialmente com quem tem depressão. Isso parece tencionar as pessoas a não buscarem esclarecimentos e informações de qualidade sobre os tratamentos em saúde mental, e assim se manterem na ignorância, tornando pouco favorável a própria busca de ajuda. Digo isto com angústia, pois tanto o público do SUS e do consultório privado onde atuo, as pessoas com frequência relatam histórias vividas por elas onde em seus contextos de vida e de convivência são/foram hostilizadas reiteradas vezes pelo transtorno mental que apresentam, tornando-se difícil o seguimento de tratamento dado a pressão que sentem e ao desencorajamento atrelado a tal vivência de desrespeito. Por isso, trabalhar com saúde mental é hoje e assim se mantém pro futuro um trabalho de enfrentamento da cultura de estigmatização e do preconceito contra as vulnerabilidades humanas”, acredita.
Sintomas…
O profissional explica que as principais queixas das pessoas ao alegarem estar com depressão, em geral, suas formas leves à moderadas se dão na presença de um ou mais dos seguintes sinais e sintomas, em um período de tempo que ultrapasse duas semanas – associadas a prejuízos na vida pessoal e profissional: humor deprimido; crises de choro; perda de interesse ou prazer na maior parte do dia; sentimentos de inutilidade e/ou de culpa excessiva/inapropriada; embotamento afetivo (numa metáfora: recolhimento pessoal semelhante a um estado de “congelamento dos afetos”); fadiga ou diminuição de energia (a pessoa referir sentir-se facilmente sobrecarregado com frequência); afastamento e isolamento do convívio sócio-familiar (a pessoa referir sentir desejo de evitação e retraimento social, com perda ou prejuízos em vínculos importantes); falta ou excesso de apetite; perturbação do sono: insônia ou hipersonia; e perda de libido. Em casos mais graves, é observado junto a essas queixas algum nível de risco de suicídio. “A primeira ação recomendada pra pessoa ou orientação de seus familiares é a necessidade de buscar tratamento, seja na rede do SUS ou na rede privada. Pelo SUS, o caminho mais assertivo é buscar a Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro e passar pela avaliação inicial com a equipe de saúde, onde esta irá fazer encaminhamentos, conforme a indicação de cada caso. Na rede privada, vale buscar a assistência de psicólogos ou psiquiatras, seja via convênio ou pela busca espontânea de profissionais de referência de cada cidade”, ressalta.
O que fazer?
Na opinião de João Paulo, é necessário colocar em prática trabalhos de prevenção em saúde mental, em diferentes níveis e setores da sociedade, seja em ambientes públicos e privados, reforçando orientações de acessibilidade aos serviços de cuidados em saúde mental e de valorização deste trabalho, para superação de estigmas sociais ainda presentes em nossa cultura e cotidiano social. “O que precisamos resgatar sempre nesses trabalhos é que somos humanos e precisamos humanizar o nosso trato uns com os outros para mantermos a nossa sociedade uma ambiência digna e segura de convivência e compartilhamentos de valores afirmativos comuns”, finaliza.
Atenção necessária
Marciane Specht, secretária de saúde de Marechal Cândido Rondon, ressalta que a demanda da saúde mental cresce a cada dia, sendo que temos diariamente pacientes internados na UPA ou Hospital Cruzatti com algum diagnóstico de saúde mental, os mesmos ficam clicados na central de leitos de psiquiatria, o qual é regulado pelo Estado do Paraná – SESA. “O encaminhamento destes pacientes para o serviço especializado por vezes é complexo e moroso, assim solicitamos sempre que quando algo esteja alterado em relação às questões mentais de alguma pessoa do seu convívio familiar, a primeira porta de entrada para atendimento deve ser a unidade básica de saúde, buscando assim que ocorra o vínculo da família e também do paciente com a unidade mais próxima da sua residência. Ainda vale ressaltar que a utilização adequada do medicamento prescrito nos horários estabelecidos, a renovação da receita em tempo oportuno deixa a vida da família sempre organizada no que se refere ao uso de medicamentos, em especial aos psicotrópicos. Assim, em conjunto a família e saúde, através dos atendimentos, conseguem auxiliar nas questões psiquiátricas que pós pandemia estão cada vez mais presentes em nossa sociedade”, destaca.
“Depressão, eu vivo um milagre de Deus”
Rafael Alexandre Schroder sempre foi um jovem bastante ativo e de certa forma extrovertido. Gostava de estar rodeado de muitas pessoas e tinha uma vida social bastante ativa. Era um jovem empreendedor e tinha uma vida tranquila. Mas, com cerca de 30 anos, as coisas começaram a mudar. “As noites de sono já não eram mais completas, as crises de ansiedade batiam sem motivo aparente. Algumas coisas que me traziam alegrias já não faziam mais tanto sentido e com o passar do tempo, iam piorando. Noites em claro, falta de ar, cansaço e o desânimo passaram a fazer parte da minha vida. Até que chegou a hora de procurar ajuda médica. No início o psiquiatra, que logo detectou que eu estava com depressão e me receitou os primeiros medicamentos. Eu não entendia muito bem isso, estar com depressão não me fazia sentido. Mas, com o passar do tempo, entre melhoras e pioras, as doses de medicamentos foram aumentando. A ajuda psicológica também passou a fazer parte da minha rotina. Psicólogo, psiquiatra, medicamentos e uma sensação de não fazer parte desse mundo mais. Era como se eu estivesse vivendo dentro de uma bolha, onde ninguém me via e nada fazia sentido pra mim. Por não aceitar aquela condição, quase ninguém sabia que eu tomava medicamentos. Achava que logo iria passar e tudo voltaria ao normal. Por vezes, achando que já estava bom, parei de tomar meus medicamentos, com e sem orientação profissional. Mas, passados poucos dias, as coisas pioravam muito e eu tinha que iniciar todo o tratamento novamente e voltava muito pior que antes. Por muitas vezes, a vontade de matar aquela dor era enorme e os pensamentos tomavam conta da minha mente”, relembra emocionado.
“… menos o mais importante…”
Rafa conta que tentava melhorar de muitas formas, tudo o que ouvia falar que era bom para depressão, fazia. “Minha mãe ouviu que uma receita de banana verde era boa. Ela saía pelo interior buscar bananas verdes porque no supermercado sempre estavam maduras, e preparava a receita para mim. Não sei se me ajudou ou não, mas sei que não era muito gostoso e as coisas estavam cada vez piores, e depois de seis anos com depressão, eu já não tinha mais vontade de nada, nem de viver. Nessa fase, já tinha tentado de tudo, menos o mais importante. Minha mãe me disse um dia que só Deus poderia me salvar. Quando mais jovem, eu não era muito ligado a Deus, mesmo acreditando e indo à igreja às vezes. Mas, às vezes, não basta. Jesus é o caminho e o que Ele mais quer é ter relacionamento conosco. Eu passei a frequentar a igreja e ter relacionamento com Deus… e entreguei minha vida a Jesus. A partir daí, as coisas passaram a melhorar, e tudo aquilo que eu estava procurando, encontrei. Jesus me preencheu e me trouxe algo novo, ânimo novo, me trouxe paz, trouxe alegria, vontade de viver e me deu a cura. Deus fez o milagre em mim e há quatro anos eu sou livre de qualquer tipo de medicamento ou acompanhamento profissional. Jesus é quem me acompanha hoje, e é maravilhoso andar com Deus. Jesus disse: ‘Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve’ (Mateus 11:28-30)”, relata.
Ele destaca que a fé e o relacionamento mais profundo com Deus foram fundamentais para sua recuperação. “É importante ressaltar que cada pessoa é única e pode encontrar diferentes formas de lidar com a depressão, mas acreditar no poder de Jesus e entregar as nossas angústias a Ele pode ser um caminho valioso. Se você está passando por momentos difíceis, não hesite em buscar ajuda profissional e espiritual. Lembre-se que você não está sozinho e que sempre há esperança de dias melhores. Confie em Jesus e permita que Ele seja a luz que ilumina seu caminho rumo à cura e à felicidade. Eu vivo um milagre de Deus, eu estou curado da depressão”, finaliza.
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