Um jovem, pai de uma menina de seis anos, conversava comigo na calçada da rua. Perguntei a ele o nome da sua garotinha. Sem muitos comentários, ele falou o nome e a idade dela. Eu disse que tenho três meninas e que sou muito feliz por cada uma delas. Elas brincam juntas, brigam juntas e aprendem a se respeitar. Comentei que quando é possível, faz bem para um filho ter irmãos, aprender a dividir as coisas e aceitar opiniões diferentes.
Foi então que fiz a pergunta que pareceu uma afronta:
– Você pretende ter mais filhos?
Logo ele despejou seus sentimentos na frente da própria filha.
– “Mais uma? Nunca, nem pensar, eu quase não aguento uma. Você é louco de ter três. Filhos custam caro, dão muito trabalho, ficam doentes… eu já estou mais do que satisfeito com uma”.
Enquanto ele falava, eu observava a reação da menina. É dolorido recordar aquele olhar constrangido e envergonhado.
Será que esquecemos que as crianças ouvem, enquanto adultos conversam?
Naqueles olhinhos, existia uma vergonha por sentir-se uma “ladra” do tempo e uma “despesa” no orçamento.
Estamos passando esta mensagem para a próxima geração?
Acho que se ela pudesse, iria embora para nunca mais incomodá-lo.
Posso entender a vontade que alguns filhos têm, de sumir de casa. Tudo o que eles recebem é o sentimento de serem um gasto e um atrapalho na agenda.
Eu sei que as finanças nos apertam. A conta do supermercado é alta. Filhos não podem nem devem ganhar tudo o que desejam. Mas, precisamos cuidar para não fazer os filhos sentirem que são os únicos culpados das finanças. Muitas vezes, são as cobiças dos adultos que custam mais caro do que o leite.
Filhos não são gastos, são investimentos de amor.
Assim como alguém investiu quando nos amou, assim investimos neles.
Não são ladrões do tempo, são eles que fazem o nosso tempo valer a pena. O melhor depósito de nossas finanças é na conta que sustenta a continuidade da vida humana.
Filhos são bênçãos do Senhor. Eles precisam sentir que realmente são.