Sou a mais velha de cinco irmãos e já experimentei épocas de privação, não do que era essencial, mas dos supérfluos. O slogan da Elma Chips, “É impossível comer um só”, lá em casa era “É impossível comer mais do que dois”, afinal, não sobra muito quando se divide um pacotinho de vento com alguns salgadinhos entre cinco crianças.
Iogurte era uma das coisas que nos deixavam mais alvoroçados. Uma bandeja de seis potinhos dava para todos nós, pois o pai e a mãe “não gostavam”, mas dividiam o último potinho só “pra não dar briga”.
Nós comíamos com avidez e, em cinco minutos, não tinha mais iogurte. Bom, pelo menos cinco potes estavam vazios. A Andreia, minha segunda irmã mais nova, tinha muito prazer em guardar o iogurte dela para tomar depois que todos já tinham tomado. Todos os irmãos têm lembrança vívida da cena. Ela passava entre nós caminhando lentamente, colocava o dedo indicador dentro do potinho para lambuzar com iogurte e lambia o dedo olhando para nós. Demorava mais para tomar o iogurte do que uma vovó para comer um ariticum sem dentadura. Você já viu a Turma do Chaves, quando o Quico chega com um pirulito gigante? Então você consegue imaginar a cena.
A inveja que ela provocava não era nada cristã, mas ela era a única que realmente “saboreava” o iogurte. Os outros mal sentiam o gosto.
É neste “saborear” que eu penso quando eu leio o Salmo 34:8: “Oh! Provai e vede que o Senhor é bom”. Em Romanos 12:2, Paulo diz: “… para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
Alguns cristãos esperam por grandes eventos ou por grandes pregadores, para então se “empanturrar” de Deus, pensando que estarão nutridos para sempre. Esquecem, no entanto, de saborear o Senhor nos dias comuns, em meio à rotina do dia a dia. Normalmente, são estes cristãos que não conseguem achar que a vontade Dele é tão boa, agradável e perfeita.
O apóstolo Paulo começa o versículo 2 dizendo: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”. Este é o segredo para conseguirmos “sentir o sabor”. Nossa vida deve estar dentro da vontade do Senhor. Temos que ser “transformadas”. Um bolo quadrado não foi assado em uma forma redonda. Ele adquire o formato que o envolve. Se estivermos envolvidas com a Palavra de Deus, não nos conformando com os padrões deste mundo, mas sempre nos moldando aos padrões eternos, poderemos perceber que a vontade Dele é perfeita e que Ele é bom.
Podemos até sentir uns “apertões” e o calor do fogo, mas o resultado final compensa e é saboroso, porque percebemos que não se trata de como Deus nos prova, mas de como nós temos prova de que Ele sempre estará ali, enquanto confiarmos a Ele os nossos desígnios, planos, e descansarmos Nele, lambendo os dedos em Sua presença.