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“A fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova daquilo que não vemos” Hebreus 11:1

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“A fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova daquilo que não vemos” Hebreus 11:1

Nesta edição, vamos contar um pouco da linda história de uma pessoa muito querida e inspiradora: a Miguela. A reportagem é em comemoração ao Dia do Psicólogo, celebrado anualmente em 27 de agosto no Brasil. Esta data valoriza o profissional da área da saúde responsável por estudar e orientar o comportamento humano, lidando com os sentimentos das pessoas.

Confira essa reportagem especial e seja edificado!

 

Escolha profissional ideal!

Miguela Andresa Hanke Ohse, 26 anos, é psicóloga, formada em 2013, pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), campus Toledo e com Pós-Graduação em Psicanálise Clínica de Freud a Lacan, também pela PUCPR. “Quanto à minha escolha profissional, acredito ter sido a ideal, gosto muito do que faço! O período de escolha foi de dúvidas e questionamentos, como é para a maioria das pessoas. Li muito sobre as profissões que me interessavam e conversei com pessoas que me ouviram e orientaram bastante. Quando me decidi pela psicologia, deixei as outras opções de lado e procurei me aprofundar nessa escolha”, explica.

Atualmente, Miguela atende como psicóloga clínica em consultório particular em Marechal Cândido Rondon e atua na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social da prefeitura de Quatro Pontes, na proteção social especial.

Ela é filha de Alberto Ivani Hanke e Valdeni Ines Ohse e tem dois irmãos: Cristian e Gustavo. É natural de Hernandarias, Paraguai. “Morei no Paraguai até os seis anos, quando vim morar em Marechal Cândido Rondon com minha madrinha Margarida e meu padrinho Jordan, para poder estudar. Morei por quatro anos com eles”, explica.

 

Cegueira total de nascença

Miguela é cega total de nascença. “É certo que o fato de não enxergar gera algumas dificuldades no cotidiano. No entanto, procuro buscar alternativas além da visual para viver”, relata.

Ela acredita que muitos pensam que uma pessoa quando nasce cega já nasce com uma audição ou algum outro sentido mais aguçado que as outras pessoas, mas que não é bem assim que acontece. “Pela ausência da visão, é preciso desenvolver mais os outros sentidos. Não posso ver, mas posso ouvir, tocar, preciso aproveitar esses sentidos que estão disponíveis para mim. Existem coisas em que há a necessidade da visão para realizar, como por exemplo dirigir; nesses casos, preciso do auxílio de outras pessoas. No Ensino Fundamental e Médio, utilizava a máquina Braille para realizar as minhas atividades: algum colega ditava para mim o que estava no quadro e eu escrevia na máquina. Já na faculdade, utilizei o computador para estudar; o material (livros, textos), precisava ser disponibilizado digital no Word ou em algum outro editor de texto e com o auxílio de um computador com programa de voz, eu realizava a leitura. Minhas anotações e provas também eram realizadas através do computador com sintetizador de voz”, relata.

 

Alguns detalhes do cotidiano

Miguela destaca que as tecnologias facilitam bastante o seu dia a dia. “Além do computador com voz, que é essencial, existe o celular, que também possui um sistema com voz que me proporciona o acesso a diversas facilidades que videntes possuem, só que no meu caso, é com o programa de voz”, explica,

Miguela escolhe as próprias roupas e o que usa. “Não é possível imaginar como é uma cor, mas através de conhecimento adquirido socialmente, é possível imaginar o que combina com o que. Por isso, quando vou comprar algo, quero saber dos detalhes sobre a cor e isso precisa ser explicado por um vidente; quanto à textura, formato e outros detalhes das roupas, é possível perceber através do tato… é através do tato que conheço minhas roupas, calçados e outros objetos”, ressalta.

 

Contato e relacionamentos

Ela conta que conhece as pessoas através da voz. No entanto, se a pessoa fala pouco com ela, é possível que não lembre de sua voz, mas isso não é motivo para não se aproximar. “Uma das atitudes dos outros que me chateia enquanto pessoa cega é quando não me cumprimentam. Me veem, mas fingem que não viram, quando na verdade a única que não viu nada ali fui eu! É fato que para se cumprimentar uma pessoa cega não basta olhar para ela e dar um sorriso. Mas, existem outras formas para se fazer isso: a mais óbvia delas é falando. Há quem pense ‘não vou cumprimentar ela, porque ela não vai lembrar da minha voz’… se nos falamos pouco, é possível que isso aconteça… mas aí é só você dizer seu nome, de onde nos conhecemos ou algo assim. Não falar nada também diz muita coisa: no caso de não se dirigir a  uma pessoa cega, imagino que esteja dizendo: ‘ela não me viu mesmo, não vai fazer diferença cumprimentar ou não’.. mas agir assim é reduzir a pessoa a sua deficiência, deixando de lado a pessoa para além da deficiência que como todos os outros possui sentimentos… e para cultivar sentimentos, é preciso de contato; no caso dos deficientes visuais, o contato se dá por outras vias que não a do olhar”, ressalta.

 

Preconceito?

Quanto a enfrentar preconceito, Miguela conta que é fato que já passou por tais situações. “Acredito que grande parte das pessoas já passou por isso em algum momento de sua vida, pois o ser humano possui bastante dificuldade em lidar com o diferente, com o desconhecido. Para mim, uma das melhores maneiras para diminuir o preconceito é através do esclarecimento, do diálogo, conhecer o diferente e lidar com isso e ainda, conhecer a si mesmo, perceber que ninguém é perfeito, que todos possuem dificuldades e habilidades… aceitar e saber lidar com isso é fundamental”, relata.

Miguela acredita que criança não possui preconceitos: vê o diferente e questiona porque é assim e cabe a família ensinar sobre isso. “Já o adolescente apresenta bastante preconceito, manifesto em brincadeiras, piadinhas… creio que foi na adolescência que sofri mais preconceito. Já o adulto tende a esconder seu preconceito, não conversa com o diferente, se afasta, ignora sua existência”, destaca.

 

Fé e ação!

Miguela e sua família frequentam a Igreja Luterana Alvorada, em Marechal Cândido Rondon. “Deus representa tudo, sem Ele não há vida, e sem vida não existe possibilidade de lutar e buscar aquilo que desejamos. É Deus quem nos concede tudo aquilo que temos e que necessitamos, mas não podemos nos acomodar! Precisamos fazer nossa parte para conquistarmos as coisas que queremos. É como meu pai costuma dizer nas nossas conversas: ‘ore e pense como se tudo dependesse de Deus, faça e aja como se tudo dependesse de você’. E eu acrescento ainda: baseando suas ações nos ensinamentos de Deus”, enfatiza.

Ela acredita que a fé é essencial na vida de uma pessoa. “Quem possui fé, não tem necessariamente menos problemas e dificuldades que alguém sem fé. Mas, a forma que uma pessoa com fé olha e encara as situações é certamente diferente, e como nos diz em Hebreus 11:1: ‘A fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova daquilo que não vemos’”, ressalta.

 

Para psicólogos e futuros psicólogos…

Para jovens que desejam seguir a carreira de psicólogos, Miguela destaca que é importante, primeiramente, que estejam certos de sua escolha. Isso vale para outras carreiras também! “Após terem realizado uma escolha consciente, busquem concretizar essa escolha”, enfatiza.

Para os colegas psicólogos, ela deixa a seguinte mensagem: “Psicólogos são profissionais que possuem conhecimentos técnicos específicos para atuar com os seres humanos em diversos contextos, principalmente em situações de sofrimento, angústias, conflitos e crises. Tal fato não torna estes profissionais imunes aos sofrimentos e crises em sua própria vida. Que possamos, a cada dia, ser melhores enquanto profissional, fazendo o possível para a evolução e melhora das pessoas que buscam e confiam em nosso trabalho. Que também não nos esqueçamos da nossa condição humana e olhemos para si quando preciso for”, finaliza.

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