Continuemos, então, o texto publicado ontem:
No mesmo instante, o seu Police, com um movimento violento se posicionou opostamente na palma da mão; o nervo mediano foi lesado. Pode-se imaginar aquilo que Jesus deve ter provado; uma dor lancinante, agudíssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se, como uma língua de fogo, pelos ombros, lhe atingindo o cérebro. Uma dor mais insuportável que um homem possa provar faz perder a consciência. Em Jesus não.
Pelo menos se o nervo foi destruído só em parte: a lesão esticará fortemente como uma corda de violino esticada sobre a cravelha. A cada solavanco, a cada movimento, vibrará despertando dores dilacerantes. Um suplício que durará três horas. O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da trava; elevam Jesus, colocando-o primeiro sentado e depois em pé; consequentemente, fazendo-o tombar para trás, o encostam-se à estaca vertical, depois rapidamente encaixam o braço horizontal da cruz sobre a estaca vertical. Os ombros da vítima esfregaram dolorosamente sobre a madeira áspera.
As pontas cortantes da grande coroa de espinhos o laceram o crânio. A pobre cabeça de Jesus inclinou-se para frente, uma vez que a espessura do capacete o impedia de apoiar-se na madeira. Cada vez que o mártir levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudíssimas. Pregam-lhe os pés. Ao meio dia, Jesus tem sede. Não bebeu desde a tarde anterior.
As feições são impressas, o vulto é uma máscara de sangue. A boca está semiaberta e o lábio inferior começa pender. A garganta, seca, lhe queima, mas Ele não pode engolir. Tem sede. Um soldado lhe estende sobre a ponta de uma vara, uma esponja embebida em água ácida, em uso entre os militares. Tudo aquilo é uma tortura atroz. Um estranho fenômeno se produz no corpo de Jesus. Os músculos dos braços se enrijecem em uma contração que vai se acentuando: os deltoides, os bíceps esticados e levantados, os dedos se curvam. Diria-se um ferido atingido de tétano, presa de uma horrível crise que não se pode descrever. A isto que os médicos chamam tetania, quando os sintomas se generalizam: os músculos do abdômen se enrijecem em ondas imóveis, em seguida aqueles entre as costelas, os do pescoço, e os respiratórios. A respiração se faz, pouco a pouco, mais curta. O ar entra com um sibilo, mas não consegue mais sair. Jesus respira com o ápice dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena crise, seu rosto pálido pouco a pouco se torna vermelho, depois se transforma num violeta purpúreo e enfim em cianítico. Jesus atingido pela asfixia sufoca. Os pulmões cheios de ar não podem mais se esvaziar. A fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita.
Que dores atrozes devem ter martelado o seu crânio! Mas, o que acontece? Lentamente, com um esforço sobre-humano, Jesus tomou um ponto de apoio sobre o prego dos pés. Esforçando-se a pequenos golpes, se eleva, aliviando a tração dos braços. Os músculos do tórax se distendem. A respiração se torna mais ampla e profunda, os pulmões se esvaziam e o rosto recupera a palidez inicial.
Por que este esforço? Porque Jesus quer falar: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Logo em seguida, o corpo começa afrouxar-se de novo, e a asfixia recomeça. Foram transmitidas sete frases pronunciadas por Ele na cruz: cada vez que quer falar, deverá elevar-se tendo como apoio o prego dos pés, inimaginável! Enxames de moscas, grandes moscas verdes e azuis, zunem ao redor do seu corpo; irritam sobre seu rosto, mas Ele não pode enxotá-las. Pouco depois, o céu escurece, o sol se esconde: de repente a temperatura abaixa. Logo, serão três horas da tarde. Jesus luta sempre: de vez em quando, se eleva para respirar. A asfixia periódica da vítima que está destroçada. Uma tortura que duram três horas. Todas as suas dores, a sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos, lhe arrancam um lamento: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?”. Jesus grita: “Tudo está consumado!”. Em seguida num grande brado disse: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. E morre.
“Ele fez tudo isso por amor a você! E você, o que faz por Ele?!?”