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Da banalidade à complexidade do diagnóstico clínico do Transtorno Bipolar

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Da banalidade à complexidade do diagnóstico clínico do Transtorno Bipolar

Por Valdirene Sutil Rafaeli

Atualmente, o modismo é intitular uns aos outros ou a si mesmos como “bipolar”. Fato este, faz lembrar que até pouco tempo, e ainda se vê, que ao se demonstrar triste, a pessoa recebia de amigos, cônjuges, parentes e até de profissionais de outras áreas, o título de depressão (Transtorno Depressivo Maior). Da mesma forma que a criança agitada e desatenta recebia o termo de portadora do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Essa crescente banalização das doenças psíquicas e também dos profissionais da área da saúde mental, mostra a necessidade de esclarecimento sobre esse assunto tão sério que são os diagnósticos dos transtornos mentais.

Psicólogos e psiquiatras utilizam-se de uma gama de avaliações para o diagnóstico dos transtornos mentais como estudo do histórico de vida, entrevistas, testes projetivos e quantitativos, entre outros, os quais seguem uma estrutura científica e internacionalmente testada e comprovada, onde são levados em conta diversos critérios a partir de estudos, coleta de dados e resultados estatísticos aprovados pela ciência conforme descreve o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5).

O transtorno bipolar é uma patologia de ordem mental seriamente investigada, diagnosticada, tratada e prevenida por profissionais capacitados, psicólogos e psiquiatras. Alguns aspectos desta condição psíquica é o fato de que a mesma afeta os níveis de humor, disposição e produtividade do indivíduo, em que o mesmo manifesta estados de humor variados, que podem ser extremamente enérgicos, ou seja, maníacos ou sem energia, como tristeza e depressão. Da mesma forma, podem ocorrer estados menos intensos, chamados de hipomania, com episódios de alteração de humor percebidos em espaços de tempo variados, de forma rara ou recorrente durante o ano. É comum entre homens e mulheres desenvolverem o transtorno entre 15 e 25 anos de idade, prevalecendo ao longo da vida adulta.

Segundo pesquisas, o transtorno bipolar não tem cura, contudo, é possível controlar as alterações de humor com medicamentos apropriados e acompanhamento psicológico. Por outro lado, quando um paciente está sem tratamento, cada fase pode durar de três a seis meses, após, há uma fase de equilíbrio, sendo comum ocorrer euforia que também pode durar de três a seis meses, havendo possibilidade de redução do tempo de duração quando o tratamento for adequado.

 

 Identificação

As oscilações de humor provocadas pela doença, indicam para a neurociência que características biológicas podem apresentar diferenças físicas em seus cérebros como um desequilíbrio entre os neurotransmissores; ou, um desequilíbrio hormonal pode estar entre as possíveis causas ou ter relação com a herança genética. O meio ambiente, ou seja, o ambiente de convivência do indivíduo pode apresentar características que aumentam as chances do  desencadeamento da doença, como abuso sexual, outras experiências traumáticas, como perdas por mortes, abuso de drogas ou violência física.

Para os profissionais da saúde mental, muitas vezes é difícil identificar e diagnosticar o transtorno bipolar, e uma razão para isso, é a hipomania, fase quando a pessoa passa a ter um alto nível de energia, pensamentos de grandiosidade ou impulsividade em ideias, podendo levar a pessoa a se sentir tão bem que não percebe a presença de um problema. Outra razão para a falta de reconhecimento é que o transtorno bipolar pode aparecer com sintomas de outras doenças ou pode ocorrer em paralelo com outros problemas, como abuso de substâncias, problemas de comportamento irregular na escola ou em seu local de trabalho ou, outros transtornos psíquicos como Borderline, por exemplo.

É importante salientar que é quase impossível qualquer um de nós termos o humor duradouro, tranquilo, sem oscilações, pois, desde que acordamos pela manhã até a hora de irmos dormir, temos diversas mudanças no estado emocional em um dia apenas. Essas alterações podem estar relacionadas a fatores externos e internos, como a TPM nas mulheres, porém, não necessariamente são suficientes para aferir que a pessoa é bipolar. Por outro lado, muitas vezes o transtorno bipolar não é reconhecido como uma doença e os pacientes podem sofrer por anos ou décadas sem o diagnóstico.

Caso a pessoa perceba que está tendo prejuízos na vida familiar, amorosa, social ou no trabalho devido a comportamentos parecidos com os mencionados acima, orientá-la a buscar uma avaliação profissional é o melhor a se fazer antes de ACHAR e AFERIR que ela desenvolveu um transtorno psíquico. Assim, antes de enquadrar alguém a um esteriótipo de transtorno mental, é importante o questionamento de que se, realmente, esse comportamento trará segurança para a pessoa que o recebeu ou, que contribuiu preconceituosamente e impulsivamente para que ela se sentisse desrespeitada pela banalidade sobre seu jeito de ser.

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Psicólogas Caroline Katiuscia Krummenauer, Mariana D. Herdt e Valdirene Sutil Rafaeli

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